A história conta que foi em 1º de fevereiro de 1317 que a vocação dos portugueses para o mar foi oficializada. Nesta data, o então rei Dom Dinis outorgou o título de almirante ao navegador Manuel Pessanha. O documento, preservado até hoje no Arquivo Nacional, é considerado a certidão de nascimento da Marinha portuguesa, mas o pioneirismo vem de antes.
O domínio dos portugueses sobre os oceanos se consolidou na época das chamadas grandes navegações. "Com a expansão marítima dos séculos XV e XVI, Portugal virou-se definitivamente para o mar, criando impérios, sucessivamente, na Índia, no Brasil e na África", explica o pesquisador.
Celebração e reaproximação
O Dia da Marinha é celebrado todos os anos com programação oficial em uma cidade da zona costeira de Portugal, mas 2019 marca uma mudança na estratégia. Coimbra, na região central do país, foi a escolhida. As atividades, ao longo de uma semana, culminaram com o desfile dos militares na principal avenida da cidade, à margem do rio Mondego, o mais extenso de Portugal, neste domingo (19).
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A decisão não foi por acaso. A Marinha portuguesa vem sofrendo com a baixa adesão ao recrutamento. O serviço militar em Portugal deixou de ser obrigatório há 15 anos. Um estudo do Ministério da Defesa, divulgado em abril deste ano, mostrou que de 2008 a 2018 houve redução de 59% no efetivo da instituição. Ir para o centro do país foi uma forma de chamar atenção de outra parte da população. "Não é um problema exclusivo de Portugal, é algo transversal na Europa. Em termos de recrutamento, estamos a inovar na forma como chegamos às pessoas", afirma à Sputnik Brasil o porta-voz da Marinha, comandante Fernando Pereira.
Focando principalmente nos jovens, a marinha adotou uma postura mais informal para o recrutamento e comunicação externa. Aposta no uso de vídeos, redes sociais, e foca na reestruturação do plano de formação e carreira. "No pacote de formação, trabalhamos para que eles tenham equivalência no mundo civil, para que aqueles que porventura decidem abandonar a carreira militar saibam que têm um futuro no país. Outra forma é que essas pessoas também sejam mais facilmente integradas em organismos de Estado. Também criamos condições para que não se passe tanto tempo embarcado, e só conseguiremos isso recrutando mais, para ter mais pessoas para rodar e dar melhores condições de vida a quem abraça esta profissão", explica o porta-voz.
Modernização
A Marinha vai ser beneficiada com os recursos da nova Lei de Programação Militar, aprovada pelo parlamento português em novembro passado, que totaliza quase cinco bilhões de euros para a modernização das Forças Armadas do país. Ao longo dos próximos 12 anos, a Marinha vai adquirir "mais seis navios-patrulha oceânicos, um navio polivalente logístico. Temos todas as condições para, na próxima década, reforçar a nossa Marinha e reforçar os efetivos, que é o essencial", destacou o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, em entrevista ao final da solenidade em Coimbra.
Atualmente, a Marinha portuguesa atua como responsável por ações de vigilância e de buscas e salvamentos marítimos em uma área que é "62 vezes o território de Portugal, é quase a Europa. Salvamos mais de 400 vidas por ano e percorremos mais de oito voltas ao mundo por ano", diz o porta-voz da instituição.