O porta-voz do presidente, Andrey Bogdan, anunciou há poucos dias que Zelensky tinha a intenção de convocar um referendo para que os cidadãos pudessem decidir se negociariam com a Rússia ou não.
"Temos de ouvir cada pessoa, não é um referendo legislativo, mas um referendo informativo: 'cidadãos, o que vocês acham?' Esta é uma conversa normal com as pessoas", declarou Zelensky em uma reunião com ativistas, citada por seu serviço de imprensa.
Ele explicou que a pesquisa é apenas uma maneira de conhecer a opinião da sociedade.
Zelensky também enfatizou que pretende manter um debate aberto para as pessoas sobre questões importantes para o país e não quer tomar decisões a portas fechadas.
"Os participantes da reunião concordaram que faz mais sentido chamar isso de pesquisa e diálogo com a sociedade do que um referendo", informou a assessoria de imprensa.
As relações entre a Rússia e a Ucrânia pioraram após o conflito no Donbass e a reunificação da Crimeia à Rússia após o referendo realizado em março de 2014, no qual mais de 96% dos eleitores endossaram essa opção.
A Ucrânia acusa a Rússia de intervir nos assuntos internos do país e de participar do conflito no Donbass.
Moscou repetidamente insistiu que não faz parte do conflito interno ucraniano e que está interessado em que o país vizinho supere a crise o mais rápido possível.
Novo presidente se diz 'chocado' com o cargo
Em entrevista à Agência AFP, Zelensky afirmou que seus primeiros dias desde que assumiu o cargo foram "um pouco chocantes", apontando para os desafios enfrentados. Falando nos bastidores de uma feira internacional de livros na capital Kiev, Zelensky disse que "foi um pouco chocante, há muito trabalho".
Ele também destacou que queria sair dos atuais escritórios presidenciais localizados em um imponente edifício da era soviética no centro de Kiev.
"Eu não gosto da atmosfera, do prédio", comentou o sexto presidente da Ucrânia, comediante de 41 anos, sem experiência política anterior. "Então, vamos pensar o que fazer sobre isso", acrescentou, observando que tal movimento apresentaria muitas dificuldades.
Zelensky ganhou uma vitória esmagadora no mês passado com a promessa de reiniciar o sistema político e purgar a influência de poderosos oligarcas. Ele foi empossado como presidente na segunda-feira e no dia seguinte convocou eleições parlamentares antecipadas para 21 de julho.
Em seu discurso inaugural, o presidente pós-soviético mais jovem da Ucrânia prometeu interromper uma guerra com separatistas apoiados pelos russos no leste do país, que mataram cerca de 13 mil pessoas, e fazem de tudo para impedir que os ucranianos, segundo ele, chorem.
Mas algumas das primeiras decisões de Zelensky causaram desconfiança, provocando temores de que o novato político pudesse ficar em dívida com o magnata Igor Kolomoisky, apesar das repetidas negativas.
O controverso oligarca é dono do canal de televisão que transmite os shows de comédia de Zelensky. O homem de 56 anos teria retornado à Ucrânia na semana passada depois de quase dois anos de exílio auto-imposto na Suíça e em Israel.
Zelensky descreveu a si mesmo como "um cara comum que vem para quebrar o sistema".