Em 12 de fevereiro de 2016 a capital cubana de Havana foi sede do histórico início da reaproximação entre as Igrejas Ortodoxa Russa e Católica Apostólica Romana, quando o Patriarca Kirill e o Papa Francisco retomaram um diálogo suspenso desde o ano de 1054.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o bispo da Igreja Ortodoxa na América do Sul, Ignaty Pologrudov, afirmou que o histórico encontro entre os dois líderes teve uma "importância colossal" e que superou todas as expectativas sobre o resultado da reunião, refletindo em medidas concretas executadas ativamente nos dias de hoje.
"Esse último milênio em nossas relações foi preenchido de desconfiança, hostilidade mútua, chegou-se até a conflitos abertos, e foi acumulado tanto preconceito, que ninguém poderia supor que isso poderia ser superado. Ninguém julgava que tal encontro seria possível. Mas Deus julgou a sua maneira. O encontro aconteceu. Então, o segundo significado [da importância do encontro] é que duas igrejas superaram uma enorme barreira de indiferença e hostilidade. É um passo gigantesco. Não digo no sentido de uma união — não dá pra falar em união hoje, visto que existem muitas diferenças —, mas um contato fraterno eu acho que é possível", acrescentou.
De acordo com ele, quando foi anunciado que tal encontro estava sendo planejado, ninguém do Conselho dos Bispos da Igreja Ortodoxa acreditava que, se tal evento acontecesse, alguma coisa séria poderia sair do encontro, resultando em uma reunião protocolar.
"Ninguém poderia imaginar que, como resultado do encontro, seria assinada uma declaração tão forte. Ela [a declaração] é composta por 30 pontos, metade dos quais carregam um caráter absolutamente real. Nos foi decretado pelo Papa Francisco e pelo Patriarca Kirill um caminho concreto de cooperação conjunta. Então, a partir desta declaração nós podemos preparar eventos em conjunto de maneira concreta, é o que nós estamos fazendo", explicou o bispo.
Ignaty Pologrudov, que reside em Buenos Aires desde 2016, contou que, após a reunião com o Papa Francisco, o Patriarca Kirill o encarregou de servir na América do Sul, incumbindo-o de duas tarefas principais.
"A primeira é fortalecer a vida das nossas paróquias aqui na América do Sul. A segunda é desenvolver e fortalecer a relação com a Igreja Católica. Esse resultado não pode morrer. Ele tem que ser desenvolvido. E são as pessoas que desenvolvem isso", diz.
"No meu ponto de vista, o Brasil é mais preparado, a julgar pelo que vejo, para essa cooperação e desenvolvimento das relações entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Católica", afirmou.
Segundo ele, pelo fato do país ter uma população formada por várias nacionalidades, o Brasil está mais formado como nação. "Aqui há uma percepção de maior unidade do povo, apesar de que devem existir problemas, eles existem em todos os lugares, mas os brasileiros se sentem mais brasileiros", diz ele.
"Aqui está mais consolidado o papel da Igreja Católica. E os brasileiros estão mais abertos à Ortodoxia, entendem melhor, isso porque eles foram educados na Igreja Católica, que de todas as igrejas cristãs, é a mais próxima de nós", disse ele.
"Se falarmos de alguns fatos concretos, existe aqui a única organização de nossa diocese que se configura como uma missão de difundir a fé ortodoxa […] e durante minha conversa com o Cardeal Orani João Tempesta, eu perguntei como ele vê o fato que existe essa missão, na qual chegam até nós brasileiros, fazem o batismo. Ele me disse: 'nós fazemos a mesma coisa, difundir o Cristianismo'. Sim, nós temos diferentes tradições, mas isso não deve ser obstáculo para que nós façamos a nossa principal missão, da qual falou Cristo", completou.