Desde que Moro se juntou à administração do presidente Jair Bolsonaro em janeiro, sua autoridade foi corroída repetidamente por políticos, incluindo seu chefe, independentemente da ainda alta popularidade do ministro da Justiça nas ruas.
A última derrota de Moro veio na noite de terça-feira, quando o Congresso brasileiro reduziu seus poderes sobre um órgão de supervisão financeira, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O órgão é uma importante ferramenta que sinaliza operações financeiras suspeitas no sistema bancário brasileiro.
Em um revés para Bolsonaro, que enfrenta dificuldades no Congresso, o Senado aprovou uma medida que reverteu o recente esforço do presidente para transferir o conselho do Ministério da Economia para o departamento de Moro como parte de uma campanha anti-corrupção.
Apesar de seu poder de veto sobre a ação do Congresso, o presidente disse que não vai usá-lo, porque pode criar problemas para outras reformas que seu governo está tentando empreender.
Moro ganhou ampla popularidade liderando a Operação Lava Jato, que resultou na condenação à corrupção de dezenas de executivos e políticos de primeiro escalão. Ele abriu mão desse papel no final do ano passado para assumir o posto de ministro da Justiça.
Seus problemas começaram assim que ele se encontrou com Bolsonaro no Rio de Janeiro logo após as eleições de outubro. Embora os fãs de Moro o tenham saudado como herói por assumirem o cargo, na esperança de promulgar o mesmo tipo de campanha anticorrupção que um ministro do gabinete, os detratores argumentaram que isso equivalia a se beneficiar por condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro.
O petista liderou as pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais até que ele foi preso, o que, no final, tornou impossível para ele concorrer.
"Moro sempre defendeu uma política nacional de combate à corrupção, desde seus dias como juiz", comentou Christianne Machiavelli, ex-assessora de imprensa e confidente de Moro no tribunal federal da cidade de Curitiba, onde ele atuava.
"Quando você assume um papel no Executivo, tudo muda porque você precisa negociar com o Legislativo, que nem sempre está alinhado com as expectativas do governo", acrescentou ela à Associated Press.
Algumas das dificuldades que Moro enfrenta foram impostas pelo seu chefe, não pelos legisladores.
Em fevereiro, Moro tentou nomear uma conhecida socióloga para um cargo de vice menor em um conselho do governo, mas a indicação foi bloqueada por Bolsonaro por causa de suas posições anti-armas. Mais tarde, surgiu a informação de que várias das recomendações de Moro para nomeações aos tribunais tinham sido ignoradas pelo presidente.
Moro também ficou constrangido com os comentários recentes de Bolsonaro de que o juiz havia aceitado o cargo de ministro da Justiça com a promessa de que ele seria posteriormente nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF), o mais alto tribunal do país. Moro disse que foi honrado, mas que tal acordo não foi feito.
Moro também se recusou repetidamente a responder às perguntas dos repórteres sobre as investigações de pagamentos suspeitos ao senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente.
Os legisladores, enquanto isso, acabaram com a mudança no órgão de supervisão, e anteriormente bloquearam o projeto de lei contra o crime de Moro, criado para ser seu principal trabalho no governo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixou claro que não é uma prioridade para o ano.
Apesar dos contratempos, Moro continua popular.
No domingo, quando dezenas de milhares de brasileiros saíram às ruas para defender Bolsonaro após recentes protestos contra ele, muitos manifestantes também exibiram cartazes defendendo Moro. Em Brasília, um gigante boneco do Super-Homem foi decorado com a cara do ministro da Justiça e as pessoas usavam camisetas com a frase "Em Moro nós confiamos".
Carlos Melo, professor de ciências políticas do Insper, em São Paulo, acredita que parte dos problemas de Moro vem do fato de ele dividir o palco com Bolsonaro.
Como muitos observadores, Melo acha que o ministro da Justiça pode estar de olho em uma campanha presidencial em 2022, o que o impede de deixar o cargo apesar dos problemas atuais.
"É claro que os protestos de domingo trouxeram não apenas apoiadores pró-arma e antiestablishment de Bolsonaro, mas também admiradores radicais da Lava Jato", disse Melo. "É difícil dizer que os protestos teriam tantos nas ruas sem Moro como ministro".
O ministro da Justiça manteve silêncio sobre os reveses, mas admitiu na terça-feira, após uma palestra em Lisboa, que tudo o que ele poderia fazer é ter "paciência". "Vamos encontrar outra maneira de trabalhar", avaliou.