Com a crise política e econômica na Venezuela longe de ter fim, o estado brasileiro de Roraima sofre cada dia mais com a entrada de refugiados.
O general Eduardo Pazuello, coordenador da Operação Acolhida, afirmou que encontrar cidades que aceitem receber imigrantes é a maior dificuldade do processo de interiorização – que leva venezuelanos recém-chegados a Roraima a outros estados desde o ano passado. No final de maio, segundo o general, 3.099 venezuelanos viviam em condição de rua no estado.
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No Dia Mundial do Refugiado, quais são as soluções que o governo brasileiro pode apresentar para atenuar a crise migratória?
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Camila Asano, coordenadora de programas da ONG Conectas Direitos Humanos. Para ela, a crise migratória não é um fenômeno isolado no Brasil, mas faz parte de uma crise mundial.
"Nunca teve tantas pessoas obrigadas a deixar suas casas por guerras, violência extrema ou situação humanitária", declarou ela.
Apesar disso, no entanto, o Brasil está preparado para lidar com a situação, tanto de ponto legislativo, quanto do ponto de vista da dimensão do problema para as fronteiras do país.
"O Brasil tem muito potencial para [contribuir] porque possui uma legislação avançada - tanto a lei de refúgio, quanto a lei de imigração - que tiraram o resquício das leis da ditadura militar. E além disso, o Brasil está recebendo um número baixo de imigrantes", explicou.
A coordenadora da ONG argumentou que a maioria dos venezuelanos têm buscado destinos como Colômbia, Chile, Peru e Argentina. Assim o Brasil recebe um número residual de imigrantes.
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Por um lado, "existe uma identificação [com os países hispânicos] e o idioma é uma das principais barreiras", destacou a entrevistada. Por outro lado, a fronteira com Roraima, que é uma região afastada dos grandes centros urbanos, provoca um certo 'represamento' de refugiados na região.
Para Camila Asano, também é necessário considerar que, como acontece na maioria dos casos de imigrantes forçados no mundo, a tendência é permanecer na fronteira com o próprio país, "onde se sente mais seguro". Como exemplo, ela citou os refugiados sírios, que em sua maioria ainda se encontram nas fronteiras com o seu país de origem, na Turquia, no Líbano e na Jordânia.
Por isso nem sempre o acolhimento se deve focar na interiorização dos refugiados, como tem feito o governo.
"É preciso pensar em formas de integração local dessa população em Roraima", disse a ativista. Apesar do estado ser pequeno e possuiu uma economia pequena, "é possível olhar para esse processo como uma oportunidade, inclusive de geração de renda e de dinamizar a economia", acrescentou ela.
Nos casos quando a interiorização é inevitável, entretanto, é necessário o envolvimento do governo federal para dialogar com diferentes municípios para mostrar como essa responsabilidade compartilhada guarda potencialidades.
"Essa política nos municípios precisa ser reforçada", pois as pessoas "não podem viver a vida toda em um abrigo" e precisam ser "integradas" à população.