É esta a opinião da presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Maria José Braga, que enxerga nas matérias do site, que expuseram o que seriam as conversas entre o então juiz federal Sergio Moro e os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), um exercício claro do jornalismo no país.
"É importante salientar que o site The Intercept Brasil está fazendo jornalismo. E o que é fazer jornalismo? É buscar informações de interesse público e reportar essas informações de interesse público para a sociedade [...]. O jornalista de qualquer veículo, ao ter conhecimento de uma informação importante para a vida nacional, para o debate público, a sua obrigação reportar essa informação para toda a sociedade", disse ela à Sputnik Brasil.
Nas últimas semanas, a série que ficou conhecida como Vaza Jato trouxe ao conhecimento público uma série de mensagens que, segundo o site de Greenwald, demonstrariam o que Maria José Braga chamou de "conluio" entre Moro e os procuradores da operação para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"No caso específico da Lava Jato e mais especificamente em relação à condenação do presidente Lula, sempre houve uma dúvida sobre a suspeição do juiz Sergio Moro e também dos procuradores encarregados da denúncia do Ministério Público, em razão da falta de provas concretas que havia, e mesmo sem provas concretas houve condenação", comentou a presidente da FENAJ, para quem o petista foi condenado injustamente.
A reação de Moro, do MPF e de setores da sociedade favoráveis à Lava Jato e ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi crítica a Greenwald, acusando-o de estar fazendo política partidária com a série de reportagens. Segundo o jornalista, ele e seu marido, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), foram alvos de ameaças.
"A FENAJ, juntamente com o Sindicato de Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro, [estado] onde o site The Intercept Brasil está baseado, já divulgou uma nota pública considerando muito graves as ameaças contra o jornalista Glenn Greenwald e à sua família, e essas ameaças constituem um atentado à liberdade de imprensa no Brasil. Todo cuidado das autoridades precisa ser tomado, elas precisam estar atentas para garantir a integridade física do jornalista e de seus familiares, e que ele possa continuar, junto com os seus colegas do site, prosseguindo com esse trabalho em prol da sociedade brasileira", declarou Maria José Braga.
A presidente da FENAJ participaria de uma audiência com Greenwald nesta segunda no Conselho Nacional de Comunicação Social, organismo mantido pelo Congresso Nacional. Contudo, o encontro acabou sendo cancelado pela ausência de vários dos convidados, dentre os quais estava o jornalista do The Intercept Brasil e a própria representante dos jornalistas.
Apesar da audiência não ter sido realizada, Maria José Braga pontuou que cabe às autoridades não só garantir a integridade dos jornalistas de todo o Brasil, mas também de respeitar o que diz a Constituição – ela relembrou que a Constituição Federal garante o sigilo da fonte, e não cabe ao jornalista revelar a origem de suas informações.
"O jornalista, se ele obtém informação relevante e a fonte que passou a informação não quer ser identificada e pede para não ser identificada, o jornalista tem a prerrogativa constitucional de manter o sigilo da fonte. A forma com que essa fonte obteve essa informação não é da alçada do jornalista. Isso é da alçada das autoridades policiais e o jornalista não tem que se reportar a isso. O jornalista tem que analisar a relevância da informação, a confiabilidade dessa fonte, e ele considerando essa fonte confiável, considerando o material recebido de interesse público, a sua obrigação é divulgar", completou.
Para a presidente da FENAJ, é "muitíssimo difícil" que a população brasileira não esteja interessada no conteúdo das reportagens do site sobre as mensagens trocadas pela Lava Jato, as quais, segundo já declarou o próprio Greenwald, estão apenas no início.