Após receber o comando do líder argentino Mauricio Macri, Bolsonaro assumirá a presidência do bloco por seis meses, marcando assim a primeira cúpula do grupo depois da assinatura do acordo comercial com a União Europeia (UE).
Antes de assumir a presidência do Brasil em janeiro de 2019, e durante os primeiros meses de sua administração, Bolsonaro não só havia questionado severamente os benefícios de permanecer dentro do bloco sul-americano, como também havia questionado suas próprias relações históricas com a Argentina, assegurando que isso não seria uma "prioridade" durante o seu mandato.
A opinião do líder brasileiro se inverteu no início de junho, demostrando inclusive ser um dos principais apoiadores do acordo comercial Mercosul-União Europeia durante a Cúpula do G20, realizada entre 28 e 29 de junho no Japão.
Nova abordagem de Brasília
A cientista política argentina Sonia Winer opinou à Sputnik Mundo sobre a aproximação brasileira e se isso significaria uma nova abordagem de Brasília à política externa.
"É circunstancial porque há uma disputa para ver quem lidera as iniciativas de direita na região entre Bolsonaro e Macri, mas para ver quem lidera tem que haver um contexto de presidentes com o mesmo perfil", disse a pesquisadora e professora do Conselho Nacional de Investigação Científica e Técnica (CONICET), da Universidade de Buenos Aires.
Winer comenta que é por esse motivo "que Bolsonaro vai agora simplesmente fazer campanha por Mauricio Macri, violando todos os princípios diplomáticos de interferência na política dos países vizinhos".
Para a pesquisadora, haverá uma disputa entre Brasil e Argentina para "saber qual presidente lidera e qual presidente é mais próximo a Donald Trump".
"Por exemplo, no Brasil está sendo votada a reforma da Previdência, com tendências que são muito mais profundas e estruturais do sistema do que se busca implementar na Argentina, que ocasionarão pressões para flexibilizá-la e para que seja levada por todos os direitos dos trabalhadores no nosso país", complementa.
Sobre a importância da cúpula do pró-tempore do Mercosul e do acordo comercial com a UE, Winer afirmou que ainda há um longo caminho a percorrer para saber que tipo de tratado foi alcançado e quem realmente se beneficia.
A acadêmica afirma que esses acordos "prejudicam as maiorias porque são projetados para o uso e benefício de grandes corporações transnacionais que nada têm a ver com os reais interesses do povo".
Propósito da cúpula
Sob a presidência pró-tempore do Brasil, os membros do Mercosul vão checar o funcionamento e o objetivo de cada órgão ou conselho (existem 200), que serão extintos, se houver comprovação de que não têm utilidade prática.
O Brasil vai trabalhar para reduzir as Tarifas Externas Comuns (TECs), criadas para proteger a indústria e evitar o monopólio de cada país, que são aplicadas na comercialização de produtos entre os membros do bloco.
Enquanto que o fechamento do acordo com a UE vai proporcionar, segundo a delegação brasileira, que essas tarifas sejam reduzidas para que o comércio na região se iguale às condições do bloco europeu.