No contexto das tentativas dos EUA de fazer frente ao gigante asiático em diferentes áreas, a colunista Sofia Melnichuk da Sputnik analisa se Pequim estará realmente disposto a criar uma aliança militar com países vizinhos.
No passado mês de junho, o presidente da China, Xi Jinping, sugeriu pensar em uma "estrutura de segurança" na região durante uma reunião com seus parceiros euroasiáticos no âmbito da Conferência sobre Interação e Medidas de Confiança na Ásia, que decorreu em Duchambe (Uzbequistão).
Aliança asiática
Alguns especialistas qualificaram esta iniciativa como um desejo de criar uma aliança em oposição à Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma espécie de OTAN asiática.
No entanto, se unir contra o Ocidente em um bloco asiático será bastante problemático, nota a colunista.
A proposta do presidente chinês surge após a publicação do relatório do Departamento de Defesa dos EUA que critica as atividades da Rússia, Coreia do Norte e, sobretudo, da China.
"A China utiliza incentivos e sanções econômicas, influencia as operações, usa ameaças militares para persuadir outros Estados a seguirem o seu programa", diz o relatório.
Na opinião do general, Pequim aprendeu observando "muito de perto" as guerras dos EUA no Oriente Médio e usa isso a favor de suas Forças Armadas https://t.co/3hmBr2Dre8
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) 13 de julho de 2019
Embora o relatório não mencione a possibilidade de Pequim poder vir a criar um bloco militar na região, verifica-se que os EUA já estão trabalhando com os países vizinhos para conter a China.
De fato, parece que o círculo de aliados estadunidenses está se apertando em volta da China: o Japão, a Austrália e a Índia fazem parte do Diálogo de Segurança Quadrilateral, e para além disso, EUA têm parceiros de confiança no Sudeste Asiático.
"Há desafios na região e aquilo que Xi Jinping diz não representa planos agressivos, mas sim uma reação forçada", comentou à Sputnik Sergei Sanakoyev, Chefe do Departamento Analítico Russo-Chinês do Centro de Investigação da Ásia-Pacífico.
O importante para Pequim agora é ter a oportunidade de se reunir com os parceiros, debater determinados problemas e pensar em conjunto sobre a sua solução.
Para tratar disso podem ser utilizados o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, o grupo BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai, sendo esta última a estrutura principal em termos de segurança na Ásia. Nesta plataforma Pequim apresenta suas iniciativas, aumenta a confiança e propõe todo o tipo de eventos, explica a autora do artigo.
Política asiática
A China simplesmente não tem razões para se transformar em um adversário aberto dos EUA nem criar um bloco militar. Os acordos a as declarações que Pequim assina com outros países não podem ser qualificados como alianças.
"[ A criação] da OTAN asiática é simplesmente impossível", disse à Sputnik Vasiliy Kashin, especialista principal do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia.
Todos estes países são maiores que os ocidentais e têm suas próprias obrigações e interesses.
"A ideia de que a China irá criar sua própria OTAN se deve a uma falta de compreensão de como funciona a política na Ásia. As pessoas usam estereótipos, fazem paralelos como Guerra Fria, coisas que simplesmente não funcionam na região asiática", destacou Kashin.
O especialista explicou que a ordem mundial asiática é mais complexa que a europeia, por isso aplicar o mesmo padrão aqui não faz muito sentido.
Na Ásia não existe uma aliança única, o que limita consideravelmente as capacidades dos EUA na região.
"Os americanos não conseguiram unir os parceiros asiáticos. Inclusive, é difícil fazer cooperar o Japão com a Coreia do Sul, por exemplo", salientou Kashin.
Ao mesmo tempo, o pilar de segurança de Tóquio é a sua aliança com os Estados Unidos. A Austrália é também um aliado dos EUA. Qualquer documento relativo à defesa que se assine com os chineses se discute com Washington.
A formação de uma rede de alianças político-militares não está entre os planos dos líderes chineses.
Reconhecer tal necessidade significaria uma revisão de todo o conceito de política exterior do seu país, formado desde os tempos de Deng Xiaoping.
A retórica pacífica continua sendo parte da imagem da China no âmbito internacional, mas o país também não esconde a necessidade de fortalecer as suas Forças Armadas.