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Polêmica publicitária: nova campanha da Embratur pode estimular turismo sexual?

© Sputnik / Sergei Pyatakov / Acessar o banco de imagensEstátua do Cristo Redentor no topo do morro do Corcovado, no Rio de Janeiro
Estátua do Cristo Redentor no topo do morro do Corcovado, no Rio de Janeiro - Sputnik Brasil
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Uma campanha lançada pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) está dando o que falar nas redes, devido a uma estratégia publicitária que muitos consideram passível de prejudicar a imagem do Brasil. Para discutir melhor esse assunto, a Sputnik ouviu dois experts da área, que avaliaram o impacto dessa medida para a visão do país no exterior.

Na última terça-feira, a Embratur anunciou uma nova marca, com o objetivo de estimular o turismo internacional no Brasil. Mas o controverso slogan escolhido pelos responsáveis acabou se tornando motivo de dor de cabeça para as autoridades do setor. 

​Em livre tradução, a frase "Brazil. Visit and love us (Brasil. Visite e nos ame)" poderia ser considerada inocente e saudavelmente atrativa. O problema é que, na língua inglesa, a expressão "love us" pode ter um significado com forte conotação sexual, o que especialistas e leigos estão vendo como um risco de estímulo a um tipo de turismo nada interessante para o país. 

​De acordo com o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Gabriel Rossi, especialista em Marketing e Gerenciamento de Marcas, pela repercussão negativa dessa nova polêmica envolvendo o atual governo, é possível afirmar que faltou cuidado na elaboração do produto em questão. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele explica que todas as vezes em que profissionais da área de propaganda e marketing se dedicam à criação de uma nova marca, é necessário considerar também o ambiente externo, a percepção do público, o que, visivelmente, não teria ocorrido nesse caso. 

"Infelizmente, o nosso país ainda carrega uma conotação sobre turismo sexual, entre outras questões. Então, com toda certeza, faltou esse cuidado de analisar o ambiente externo. É isso que acontece quando nós colocamos um amador para projetar algo assim. Então, agora, claro, há a necessidade de se consertar essa questão", afirmou o docente. 

Rossi avalia que o polêmico slogan da Embratur aparece como um forte transmissor de uma promessa ruim para a imagem do Brasil.

"O Brasil vem trabalhando já há algum tempo para diminuir um pouco essa percepção sobre turismo sexual. Mas o fato é que, ainda, nós carregamos, infelizmente, um pouco dessa imagem", disse ele, lamentando a "falta de bom senso".

Segundo o professor, o marketing não deve ser visto apenas como um "exercício da criação", já que depende também de um estudo da realidade e das percepções. 

"É o que eu sempre digo aos meus alunos, por exemplo: o marketing é janela, não é espelho. Você precisa, sim, abrir a janela e olhar para fora. E o que aconteceu nesse caso é uma brincadeira, uma brincadeira de muito mau gosto." 

​Para Júlio Martins, professor de Publicidade e Propaganda da Universidade Veiga de Almeida, quando se percebe que há possibilidade de pelo menos uma leitura negativa em um determinado produto publicitário, isso significa que essa ideia precisa ser evitada, de maneira a impedir certos danos. Além disso, ele lembra que esse episódio ocorre poucos meses depois de outra polêmica levantada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro envolvendo as mesmas questões, quando este, ao criticar o "turismo gay", convidou os estrangeiros a vir ao Brasil fazer sexo com mulheres. 

"Essa afirmação foi condenada pela opinião pública porque soou como uma espécie de apologia ao turismo sexual. E, logo em seguida, houve esse lançamento da nova marca, da nova logo do Brasil", disse ele à Sputnik Brasil.

Analisando a frase escrita em inglês para promover o turismo no Brasil, Martins identifica um erro já na escolha do pronome "us (nós)", que demonstra um interesse dos responsáveis em falar especificamente sobre o povo, limitando a própria ideia da visita ao país.

"Tem outras coisas além do povo brasileiro, que é o nosso maior patrimônio. A confusão já começa aí. E, aí, o verbo amar (love) tem essa polissemia também, que não é só um sentimento afetivo de curtir, de gostar, mas também abre margem para esse outro tipo de leitura, pelo fato de o Brasil ter uma imagem lá fora, em muitos países, e que, na verdade, se confirma pela história do turismo aqui. Há a presença de turismo sexual, infelizmente, até com crianças, que é uma prática que a Embratur condena e há ações para coibir isso, para que isso seja combatido."

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