Seis meses após o opositor Juan Guaidó se ter autoproclamado "presidente em exercício" da Venezuela, seu trajeto político acumulou mais sombras do que luz, tendo perdido popularidade e a atenção do exterior.
Segundo o analista venezuelano Basem Tajeldine, Guaidó criou um "governo virtual, apoiado por países aliados dos EUA e aplicou uma estratégia conhecida de longa data: derrotar o governo legítimo da Venezuela custe o que custar, por meios ilegais”.
O fracasso da ajuda "humanitária"
Guaidó protagonizou várias tentativas de interromper ou perturbar o governo de Nicolás Maduro. Entre suas primeiras ações foi tentar fazer chegar, com a ajuda dos EUA, "ajuda humanitária", que deveria ser entregue através da fronteira com a Colômbia.
Quando se deu a chegada dos suprimentos da agência estatal norte-americana USAid a Cúcuta, na Colômbia, os militantes de Guaidó tentaram cruzar a fronteira com a carga, sem a autorização de Maduro. Em seguida, os caminhões sofreram um incêndio, do qual Guaidó culpou Maduro. Uma investigação posterior do New York Times revelou que os próprios militantes de Guaidó incendiaram a carga.
Além disso, o portal de notícias Panam Post denunciou tempos depois que dois dos principais emissários de Guaidó se apropriaram de forma indevida dos fundos que os EUA enviaram para financiar a ajuda humanitária, e assistir os militares venezuelanos que fugiram para a Colômbia.
A intentona golpista e seu fracasso
Finalmente, em 30 de abril, junto com o opositor Leopoldo López, Guaidó tentou realizar um golpe de Estado, ao tentar tomar o controle da base aérea militar La Carlota, resultando em um completo fracasso em 30 abril.
Tajeldine afirma que as ações de Guaidó "violaram completamente a Constituição da Venezuela, o direito internacional, a paz, a razão e a harmonia".
Os sucessivos fracassos de Guaidó deterioraram sua imagem, tanto dentro quanto fora de seu país, resultando no surgimento de críticas contra sua atuação política entre a própria oposição.
Juventude, inexperiência e subestimação
Sem ter uma figura melhor pra lhes representar, a oposição venezuelana optou por Guaidó, figura com pouca experiência e demasiado jovem, como opina o analista, para derrubar um governo legítimo.
Um dos principais erros da oposição foi subestimar as capacidades do governo. Tajeldine afirma que "muitas vozes da oposição começam a reconhecer a realidade, e que não se pode efetuar um golpe de Estado sem o apoio das Forças Armadas. Senão, tudo se torna um mero golpe virtual, um golpe de Twitter, das redes sociais".
Na verdade, Guaidó nunca teve o apoio que esperava dos militares. "Somente alguns grupos muito pequenos embarcaram na aventura em algumas ocasiões e estavam muito mal preparados. Uns já estão na prisão e outros estão em má situação por não terem sido apoiados na Colômbia", acrescenta o analista.
Guaidó apresenta-se como o "elemento midiático, o palhaço de circo que eles estão usando para esconder os verdadeiros senhores, os que manipulam os palhaços", diz Tajeldine.
Por sua vez, o governo Maduro continua relutante em prender Guaidó porque considera que é melhor falar diretamente com o "dono do circo", ou seja, com os EUA, complementou.