Em meados deste mês, os termômetros de vastas áreas da Europa Ocidental registraram temperaturas que atingiram quase 45 graus Celsius – fator que causou grande preocupação tanto para a população quanto para os cientistas.
Uma das consequências do aumento das temperaturas médias é a mudança das condições em algumas áreas, particularmente na zona intertropical - entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio - que inclui a maior parte da América Latina, centro e sul do México, e partes do norte da Argentina e do Chile.
Migrantes climáticos
A intensificação dos fenômenos extremos, junto com a alteração das condições climáticas, está provocando a migração de pessoas dos seus países de origem para lugares onde encontram condições melhores.
Em alguns casos, a migração pode ser interna, mas em outros os cidadãos de países relativamente pequenos não têm outra opção senão deixar seus países de origem, disse à Sputnik Mundo o membro do Grupo de Mudança Climática e Radiação Solar da Universidade Nacional Autônoma do México, Dr. Carlos Gay García.
"Se os meios de produção e a terra não te alimentam, então tens de ir embora. De fato, na América do Sul e Central já existem pesquisas que indicam que há muita migração para os Estados Unidos através do México" por causa disso, enfatizou o analista.
De acordo com García, no caso da América Latina os migrantes climáticos podem migrar para o sul do continente americano, para áreas da Argentina e do Chile, particularmente para regiões como a Patagônia.
A migração será para latitudes onde as temperaturas permanecem relativamente mais baixas, destacou o especialista.
Risco potencial
Para García, os países mais afetados pelo aquecimento global são aqueles em desenvolvimento ou que estão localizados próximos dos trópicos, pois estes Estados não dispõem dos recursos necessários para enfrentar os impactos do fenômeno climático.
"Quando não temos os recursos necessários, tornamo-nos mais sensíveis às alterações climáticas. Então, é verdade que as zonas intertropicais, nas quais está localizada a maior parte das Américas, seriam muito afetadas pela mudança climática", disse Gay.
Em caso de aumento das temperaturas, a face da América Latina mudaria em termos de dificuldade em lidar, por exemplo, com a potencial escassez de alimentos. A segurança alimentar e a gestão da água ficariam comprometidas pelo aquecimento global e pelas alterações climáticas, além do efeito sobre as questões de saúde.
Outro fator da consequência das alterações climáticas são os deslizamentos de terras, causados pelas chuvas torrenciais, que são propensos a atingir com mais frequência áreas nas latitudes da América tropical, complementa o especialista. A questão é que o risco de mais mortes por esses fenômenos em países intertropicais é maior do que o risco em outros países.
Aqui a diferença entre o tipo de riscos que as pessoas enfrentam em zonas intertropicais e aqueles que enfrentam em latitudes mais elevadas tem a ver com uma maior exposição em termos de perda de vidas humanas, explicou Gay.
"Não medimos o risco em termos de quantos edifícios vão cair ou ser destruídos. Medimos em termos de quantas pessoas serão afetadas e isso é diferente no norte e no sul", salientou.
Frequência e intensidade dos fenômenos
Na opinião do professor do Departamento de Geografia da Universidade Nacional da Colômbia, José Daniel Pabón Caicedo, a situação não é tão grave, especialmente em comparação com outras áreas do planeta.
Inicialmente, as alterações climáticas provocariam um aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos, mas estes não aumentam necessariamente em todos os lugares.
"Se olharmos para as temperaturas médias, o aquecimento não é tão severo na zona tropical ou equatorial em comparação com as latitudes médias, por exemplo, na Rússia, a parte da Sibéria. Ali, o aquecimento seria maior, segundo vários modelos e cenários", afirmou o especialista.
Caicedo esclarece que para os países das Américas localizados entre os trópicos (cujo aumento de temperatura média está estimado entre dois e quatro graus no final do século), há alguns cenários que assumem que o aquecimento não será tão forte quanto na América do Norte ou no Norte da Europa.
A situação é semelhante no caso de fenômenos extremos, como tempestades intensas: em algumas áreas elas aumentarão e em outras diminuirão. Não vão necessariamente aumentar em todo o lado.
Segundo Pabón, se falamos do aumento das zonas áridas e semiáridas, então poderia haver um aumento de migrações dessas zonas para as outras em busca de melhores condições. Da mesma forma, uma das maiores e mais claras manifestações das migrações não se deve tanto ao aquecimento, mas sim ao aumento do nível da água dos rios e do mar.
"Olhando aqui na América Latina, seria necessário olhar para quais regiões, vamos supor, se houvesse inundações mais frequentes, as pessoas tenderiam a abandoná-las. No entanto, tanto quanto sei, não temos um grau estabelecido de certeza se há áreas com esse grau de problema", concluiu.