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Recorde de agrotóxicos no Brasil é risco para acordo Mercosul-UE, diz pesquisadora

© REUTERS / Adriano MachadoPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em evento sobre modernização de normas de segurança e saúde no trabalho no Palácio do Planalto, Brasília, 30 de julho de 2019
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em evento sobre modernização de normas de segurança e saúde no trabalho no Palácio do Planalto, Brasília, 30 de julho de 2019 - Sputnik Brasil
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O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem batido recordes de liberação de agrotóxicos. Até este mês foram 262 pesticidas liberados como parte de uma política de favorecimento ao agronegócio.

A política ambiental do governo segue a mesma premissa e bate recordes de desmatamento, além de questionar publicamente dados de institutos que monitoram o avanço das motosserras no Brasil.

Essa postura tem levantado preocupações fora do Brasil e pode interferir em acordos econômicos, como o recém fechado acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

Para comentar a questão, a Sputnik Brasil conversou com Helena Margarido Moreira, pesquisadora em Relações Internacionais e Política Ambiental e professora da Universidade Anhembi Morumbi.

Para a pesquisadora, a política ambiental e de liberação dos agrotóxicos do atual governo é "alarmante" e "preocupante". Ela também alerta que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia pode incluir barreiras em relação aos pesticidas.

A pesquisadora se refere a uma cláusula incluída no acordo nomeada de "princípio de precaução", que tem gerado preocupações entre os produtores brasileiros.

"[Essa cláusula] pode permitir que a União Europeia coloque barreiras para produtos suspeitos por uso de agrotóxico, principalmente esses que são proibidos na União Europeia ou produtos [agropecuários] que tenham sido criados em áreas ilegais de desmatamento", afirma a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.

© AP Photo / Gustavo GarelloBolsonaro e Macri durante cúpula do Mercosul.
Recorde de agrotóxicos no Brasil é risco para acordo Mercosul-UE, diz pesquisadora - Sputnik Brasil
Bolsonaro e Macri durante cúpula do Mercosul.

A professora, no entanto, lembra que o acionamento dessas cláusulas do acordo não é algo que pode ser dado como certo.

"Esse pode ser um impacto importante, mas não é nada que tenha acontecido já. São coisas que a gente pode vislumbrar a partir do momento que o acordo tenha sido aprovado, ratificado, por todos os países que compõem os dois blocos, o que é um processo lento", ressalta.

Apesar disso, Moreira chama a atenção de que, na possibilidade do acionamento da cláusula pela UE, a medida imposta pelos europeus pode ter efeitos sobre os outros países do Mercosul. Ela aponta também que o Brasil destoa em sua postura ambiental em relação aos vizinhos e, no caso, parceiros comerciais.

"O Brasil é o único país dentro do Mercosul e América do Sul inteira que tem expressado de alguma forma um descontentamento com o acordo [de Paris]. Essas cláusulas são muito mais voltadas ao Brasil do que ao resto do Mercosul. Isso obviamente preocupa os outros países porque eles podem ser prejudicados por uma política que está sendo adotada pelo Brasil", ressalta.

Não é só questão de saúde, UE também pensa nas cifras

A pesquisadora Helena Moreira ressalta que os países europeus poderiam usar do artifício crítico em relação à política ambiental brasileira não só para proteger a saúde de seus cidadãos, mas também para proteger a economia. Segundo ela, esse é o caso da França, que tem produtores preocupados com a competição com os produtos agrícolas brasileiros.

"Tem uma preocupação grande, principalmente da França ou de países europeus, que são mais voltados à exportação agrícola, com a importação de produtos agrícolas brasileiros. Então, tem um lado também desse tipo de cláusula abrir precedentes para esses países protegerem a própria produção agrícola, o que não seria uma prática nova nessa relação comercial entre Brasil e França e países da União Europeia", explica.

Posição brasileira preocupa, mas há espaço para ela no mundo

Um dos aspectos da política ambiental brasileira é o alinhamento internacional a grupos negacionistas do clima. Moreira acredita que a postura ambiental brasileira, apesar de não ser recomendável, pode encontrar lugar ao lado de uma articulação internacional.

"Tem espaço porque os Estados Unidos são um país cujo presidente adota uma postura mais voltada para o negacionismo, e o Brasil também", afirma.

Como exemplo, a pesquisadora lembra que o Brasil enviou, no dia 25 de julho, um grupo de diplomatas aos EUA para participação em um encontro de negacionistas do clima, a 13ª Conferência Internacional sobre Mudança do Clima.

"Isso é bastante preocupante, mas não acho que é o rumo viável e correto. Porque o movimento de combate ao aquecimento global é muito maior e consolidado e muito mais urgente. A narrativa da urgência de combate ao aquecimento global tem crescido muito mais do que a negacionista", conclui.

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