Os economistas alertam que, quando a bomba de vários trilhões de dólares plantada sob a economia mundial explodir, a crise será pior do que em 2008, opina a colunista da Sputnik Natalia Dembinskaya.
Origem da dívida
Segundo um relatório publicado pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF), a maior associação de bancos do mundo, no primeiro trimestre do ano passado, a dívida global aumentou em três trilhões de dólares e bateu outro recorde: US$ 246 trilhões, o que representa quase 320% do PIB mundial.
Nos países desenvolvidos, o volume de empréstimos aumentou em US$ 1,6 trilhão (R$ 6,1 trilhões), para US$ 177 trilhões (R$ 679 trilhões), sendo a principal contribuição a dos EUA, onde a dívida atingiu US$ 69 trilhões (R$ 264 trilhões). Destes, US$ 22 trilhões (R$ 84 trilhões) são empréstimos governamentais, que continuam a acumular-se devido ao apetite irreprimível do governo federal.
Em julho, o Centro de Política Bipartidária (BPC) do EUA lembrou que Washington estava em perigo de inadimplência, previsto para setembro. Devido a isso, os parlamentares aumentaram novamente o teto da dívida, permitindo dessa forma que o governo se endividasse ainda mais.
De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, os créditos contraídos excederão um trilhão de dólares pelo segundo ano consecutivo.
Na opinião dos analistas do IIF, a enorme e incontrolável dívida é resultado das políticas irresponsáveis dos bancos centrais, que estão viciados em imprimir dinheiro e distribuir empréstimos.
De quem é a culpa?
O instituto financeiro ressalta que os mercados emergentes foram os que mais contribuíram para o aumento da dívida global, cujo valor ultrapassou US$ 69 trilhões, o que corresponde a 216,4% do PIB.
O maior crescimento relativo do endividamento foi registado em países como o Chile, Coreia do Sul, Brasil, África do Sul e Paquistão. Tendo obtido acesso livre aos mercados de capitais, os países em desenvolvimento aumentaram os seus créditos empresariais em 50% ao longo de duas décadas.
"O problema é que este grupo de mutuários não tem experiência suficiente de gestão da dívida ao longo de vários ciclos econômicos. Assim que a recessão começa, as empresas ficam a braços com créditos, que são difíceis de pagar", explica o instituto financeiro.
Dívida chinesa avassaladora
A economia da China tem vindo a desenvolver-se há décadas à custa de novos empréstimos, resultando no aumento da dívida, que quadruplicou para quase 300% do PIB.
O setor corporativo, dominado por empresas estatais, tomou emprestado US$ 21 trilhões (R$ 80 trilhões), 155% do PIB, o que representa quase dois terços da dívida total. Como comparação, a dívida corporativa do Japão é de 100% do PIB, enquanto a dos EUA é de 74%.
Somente em 2018, 18.000 empresas inadimplentes se declararam falidas na China. O nível de inadimplência foi cinco vezes maior do que em 2015, e um novo recorde está previsto para 2019.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já destacou que os altos e voláteis níveis de dívida da China ameaçam causar enormes inadimplências corporativas.
"A desaceleração do crescimento e o aumento dos custos de financiamento estão complicando o serviço da dívida e podem conduzir a incumprimentos. Isto terá um impacto negativo na rentabilidade dos bancos e conduzirá a problemas de liquidez", observou a OCDE.
Crise financeira global
Um quadro semelhante, por exemplo, foi observado na véspera da crise financeira global de 2008. Em algum momento, a economia global simplesmente não será capaz de lidar com a enorme e incontrolável dívida.
A próxima crise, como preveem os financistas, será muito mais grave e levará a empobrecimento em massa, enorme instabilidade geopolítica, agitação social e guerras.