O risco de incêndios no país é de nível três em uma escala de cinco níveis utilizada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), que considera uma probabilidade média-alta para ocorrências.
"Vamos ter um quadro de vento moderado a forte nos próximos dias, associado com um período de umidade relativa do ar baixa. O que significa que, em grande parte do território, os materiais combustíveis estão mais dispostos a queimar em caso de incêndio, o que depois se reflete em dificuldade de supressão por parte das forças operacionais que são deslocadas para a área", explica à Sputnik Brasil o comandante operacional adjunto da Proteção Civil, Pedro Nunes.
Além das condições climáticas, outro fator que foi levado em conta para o alerta é que agosto é mês de férias em Portugal.
"Muitas pessoas regressam ao interior do país, às suas origens, e essa superlotação do interior causa uma pressão muito grande. Havendo mais pessoas, o risco é maior, os comportamentos de risco das pessoas são mais adquiridos. Historicamente no mês de agosto, o número de incêndios no interior do país aumenta", diz o comandante.
A preocupação é maior em nove distritos: Vila Real, Bragança, Guarda, Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Faro, regiões que, de acordo com Pedro Nunes, "poderão sofrer a maior adversidade meteorológica".
A empresária Liliane Bitencourt mora em Portimão, cidade do distrito de Faro, conta que o estado de atenção é constante entre a população.
"As pessoas comentam sobre o que está acontecendo e se preocupam, porque o último grande incêndio, que teve vítimas, foi muito triste. Eu estava no Brasil e já achei triste na época. Quando vim pra cá, que conheci a região de Monchique, vi as árvores tentando se recuperar. Ainda tem áreas bem escuras, vemos que a natureza ainda não respondeu, e eu acho que as pessoas que viveram aquilo nunca vão esquecer", conta a empresária à Sputnik Brasil.
Problema recorrente
O incêndio na serra de Monchique, que fica próximo da cidade onde Liliane mora atualmente, foi a pior ocorrência de 2018. A área florestal pegou fogo durante uma semana. Deixou mais de 40 feridos e destruiu 50 casas. Este ano, no começo do mês de junho, a situação se repetiu. O incêndio atingiu uma área de mato e eucaliptal, teve menor intensidade e acabou controlado no mesmo dia.
"Eu fico sempre alerta às notícias de incêndios próximos, acompanho as páginas da prefeitura, que avisam sobre os cuidados que se devem ter. Recebemos um comunicado da companhia de água, junto com a conta, que dizia os cuidados a se ter com pátios e áreas verdes, para manter tudo limpo, com multa para quem não cumprisse e isso me chamou a atenção. Em alguns órgãos dos serviços públicos há cartazes. Eles tentam manter a população em alerta", conta a empresária Liliane Bitencourt.
As orientações das autoridades para que a população também atue na prevenção dos incêndios é uma forma de tentar evitar a tragédia de dois anos atrás. Em 2017, mais de 100 pessoas morreram em Portugal vítimas de dois incêndios devastadores: em junho, na cidade de Pedrógão Grande, e em outubro, em uma ocorrência que atingiu 27 cidades da região central do país.
Na época, a atuação da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil recebeu duras críticas, que questionaram falhas no sistema de segurança e monitoramento e apontaram erros na forma de trabalho para o combate às chamas.
Este ano, a ocorrência mais preocupante começou na cidade de Vila de Rei, no dia 20 de julho, e se alastrou por 25 quilômetros até Mação. Foram quatro dias de incêndio, que deixou 17 feridos. A Proteção Civil pediu reforço das forças armadas para operações preventivas, iniciadas nesta sexta-feira (2), que envolve até fuzileiros navais.
"As operações das 18 patrulhas da Marinha, em um total de 54 militares, estão reforçando as ações de vigilância terrestre", informa em nota à Sputnik Brasil o porta-voz, Comandante Fernando Fonseca.
Os fuzileiros também estão realizando o chamado "patrulhamento dissuasor". As equipes conversam com a população de maneira a conscientizar e evitar comportamentos de risco, como queimadas.