Ao dar este passo, e com um único acordo de controle de armas nucleares ainda permanecendo, o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Novo START), é deixado pendente um grande ponto de interrogação sobre o destino de todo o nosso planeta.
Sexta-feira (2) marcou o fim oficial do tratado INF entre os EUA e Rússia, apesar dos apelos de Moscou ao diálogo durante os últimos meses.
Como se não bastasse, John Bolton, assessor de Segurança Nacional dos EUA, disse durante um discurso na conferência anual de estudante conservadores que o Novo START seria o acordo seguinte a cancelar.
"Ele [tratado] não abrangeu as armas nucleares tácticas de curso alcance ou os novos sistemas portadores russos. O tratado deverá expirar em fevereiro de 2021 e, enquanto não foi tomada qualquer decisão, é improvável que seja prorrogado. Para que devemos prolongar o sistema defeituoso só para dizer que temos um tratado?", perguntou retoricamente John Bolton.
Kevin Kamps, especialista de controle de resíduos nucleares da organização não governamental Beyond Nuclear, foi convidado a um programa especial da Sputnik para debater o que pode significar para o mundo o fim do tratado INF e explicou por que é necessário para os países alcançar um novo acordo de controle de armamentos nestes tempos de proliferação de armas nucleares.
"O tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado pelo [presidente dos EUA Ronald] Reagan e o [secretário-geral soviético Mikhail] Gorbachev em 1987, é um dos pilares centrais de controle de armas nucleares entre os EUA a Rússia. E a sua cessação é um enorme abalo. É uma questão muito séria", disse Kevin Kamps.
"Infelizmente, milhares de armas nucleares permanecem em estado de prontidão imediata entre os dois países e, sendo que estes acordos de controle de armamentos são eliminados, os riscos aumentam e nós voltamos para os tempos da Guerra Fria, regressamos de novo a uma corrida armamentista", disse especialista.
'Estamos pondo o planeta em risco'
Kamps ressaltou que os EUA são o único país que usou armas nucleares em guerras, relembrando que há algo de "irônico" sobre o momento da saída dos EUA do acordo INF, tendo em conta as datas em que foram realizados os ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki, 6 e 9 de agosto respetivamente.
"Eu penso que os EUA se tornaram muito rapidamente viciados pelo poder que as armas nucleares lhes conferem a nível internacional em relação a outros países", salientou Kamps. "Os EUA não esperavam que a URSS iria os alcançar assim tão rápido. A União Soviética só precisou de quatro anos para obter uma arma nuclear", disse.
"Estamos pondo em risco o planeta. Estamos pondo em risco os nossos países, mas nós sabemos agora que apenas uma centena de bombas da dimensão da de Nagasaki, que são relativamente pequenas, detonadas, digamos entre a Índia e o Paquistão, seriam suficientes para mergulhar o planeta em um inverno nuclear, que implicaria a morte à fome de 2 bilhões de pessoas. É isso que estamos arriscando com a existência destas armas omnicidas".
No dia 2 de agosto, o Tratado INF foi cancelado. No início do ano, Washington anunciou a saída unilateral do acordo, acusando a Rússia de ter violado o tratado. Moscou nega todas as alegações. No início de julho, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou o decreto sobre a suspensão do acordo.