Apontado no relatório final da Comissão da Verdade como um dos responsáveis pelas torturas e assassinatos cometidos durante o regime de exceção que perdurou no Brasil de 1964 a 1985, Ustra já tinha sido homenageado por Bolsonaro em 2016, quando, ainda como deputado federal, o agora chefe de Estado votou pela abertura do processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, que foi vítima de torturadores durante os chamados anos de chumbo.
— George Marques (@GeorgMarques) June 21, 2016
Apesar do mal-estar gerado na época, que lhe valeu um pedido de cassação, protocolado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por quebra de decoro e apologia à tortura, o episódio se repetiu nesta quinta-feira. Em conversa com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro, ao comentar o almoço marcado para esta tarde com a viúva do coronel, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, se referiu ao militar, falecido há quase quatro anos, como "herói nacional".
"Tem um coração enorme. Eu sou apaixonado por ela. Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer", declarou o presidente, em vídeo compartilhado pelo G1.
Morto em 2015, aos 83 anos, Carlos Alberto Brilhante Ustra tornou-se, em 2008, o primeiro oficial condenado em ação declaratória por sequestro e tortura, por decisão em primeira instância do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo. E, em 2012, foi condenado a indenizar por danos morais a esposa e a irmã do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto após ser torturado enquanto estava sob custódia do DOI-CODI, em 1971. Esse processo, no entanto, foi extinto no final do ano passado pela Justiça de São Paulo.
Estima-se que, durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil, entre 400 e 500 pessoas tenham morrido ou desaparecido por razões políticas.