A principal proposta da gestão de Moro até o momento, o chamado pacote anticrime, vem acumulando derrotas no Congresso e foi deixado de lado publicamente até pelo próprio presidente, Jair Bolsonaro, que foi eleito prometendo dar atenção especial à segurança pública. Na última quinta-feira, o chefe de Estado surpreendeu a todos ao sugerir "uma segurada" nesse projeto, a fim de priorizar o andamento de propostas em outros setores.
Para o cientista social Marcelo Castañeda, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não há, atualmente, qualquer sinal de esforço por parte da base do governo para levar adiante "o único projeto relevante" apresentado pelo atual ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil desde que assumiu o cargo. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele afirma que, ao que parece, não existe, na estrutura do governo, "um rolo compressor". Este, segundo o especialista, é formado a cada pauta.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 26, 2019
"Eu não vejo essa mobilização e esse interesse do governo pelo pacote anticrime. Até já se fala que o que virá depois [da Previdência] é a reforma tributária. E o Moro vai ficando esquecido. Eu acho que isso tem, de certa forma, uma relação com o conteúdo vazado, mas o Moro ainda conta com muita popularidade. E, aí, o Bolsonaro fica nesse dilema, acho, de queimar, de fritar o seu ministro agora, pela importância que ele ainda tem", avaliou o pesquisador, acrescentando que, nesse cenário, a tendência seria o ministro se tornar uma figura descartável no futuro.
Entre as metas do pacote anticrime apresentado ao Congresso estão medidas de combate à corrupção, também uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro. Mas Castañeda não vê com grande estranheza a decisão do governo de deixar em segundo plano essas propostas, uma vez que as contradições do próprio presidente nessa área já estariam refletidas em outras ações por ele adotadas, como no caso dos gastos pessoais exorbitantes com o cartão corporativo, envoltos em sigilo.
"Eu acho que isso vai acabar sendo uma contradição cada vez mais evidente", disse ele. "E acho que vai acabar se desvendando em algum momento que esse governo não combate propriamente a corrupção."
Ainda de acordo com o professor da UFRJ, se as polêmicas envolvendo Sérgio Moro atrapalharem de fato o desenvolvimento das ações adotadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, quem vai ganhar com isso é a sociedade brasileira.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) April 16, 2019
"As políticas que ele está apresentando agora, nesse pacote anticrime, são políticas, eu acho, extremamente maléficas. Essa questão da licença para matar, por exemplo, é algo que prejudicaria o contexto de uma sociedade que já é, por si só, muito violenta, principalmente nessa questão da violência policial."