A Venezuela registrou uma queda do seu Produto Interno Bruto, disse à Sputnik Mundo Aníbal García Fernández, integrante do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG).
"O bloqueio da Venezuela pelos EUA levou a que, nos últimos cinco anos, o país perdesse mais de 7% do PIB, o que fez com que muitas pessoas não tivessem acesso a alimentos e medicamentos", destacou Fernández, que investiga há vários anos o impacto das medidas impostas pelos EUA.
O presidente estadunidense endureceu as sanções contra a Venezuela esta terça-feira, congelando todos os bens do governo venezuelano em território dos EUA, que pertençam a cidadãos norte-americanos ou que estejam sob o seu controle.
O decreto de Trump se aplica ao Estado e ao Governo da Venezuela, a qualquer subdivisão política, agência ou sua estrutura, incluindo o Banco Central da Venezuela e a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA).
"É possível que, com a introdução destas novas sanções, mais pessoas fiquem com falta de alimentos e medicamentos porque restringe a entrada de divisas na Venezuela […] Mas é preciso lembrar que o governo venezuelano tem grande apoio popular. Apesar dos problemas econômicos, não estou vendo a saída de Nicolás Maduro nos tempos mais próximos.
Desde 2013, grande parte do sistema financeiro internacional vem favorecendo o bloqueio das operações financeiras da Venezuela, explicou o especialista.
Uma investigação da CELAG indica que os bancos Citibank, Comerzbank e Deutsche Bank, entre outras instituições financeiras, se prestaram a operações de bloqueio financeiro.
População venezuelana com falta de medicamentos
Em 2017, 300 mil doses de insulina pagas pelo Estado venezuelano não chegaram ao país porque o Citibank bloqueou a transação.
Um total de 23 operações no sistema financeiro internacional não foram aceites este ano, entre elas 39 milhões de dólares em alimentos, produtos básicos e medicamentos.
A organização não governamental Centro de Investigação Econômica e Política (CEPR) dos EUA estimou que as sanções econômicas de Washington constituem um "castigo coletivo" porque contribuíram para um aumento de 31% da mortalidade em geral na Venezuela entre 2017 e 2018, o que significa mais de 40.000 mortes, de acordo com os autores do estudo.
"As sanções reduziram o consumo de calorias, fizeram aumentar a taxa de doenças e mortalidade, milhões de venezuelanos foram deslocados ou se viram obrigados a fugir do país, o resultado disso foi o agravamento da recessão econômica e a hiperinflação [...]. Todos estes impactos prejudicaram desproporcionalmente os venezuelanos mais carenciados e vulneráveis", afirma o CEPR.
García Fernández afirmou que, com base na última análise do CELAG publicada em fevereiro deste ano, entre 2013 e 2017 se registraram prejuízos de 350 bilhões de dólares por causa deste tipo de sanções.
O governo venezuelano qualificou esta ação como muito grave e pediu ao Conselho de Segurança da ONU e ao secretário-geral António Guterres para que se pronunciem sobre este assunto.