No início deste mês, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Carvalho, anunciou que a universidade estaria em vias de suspender suas atividades em razão da falta de verbas para custeio. Segundo ela, a instituição só havia recebido R$15 milhões dos R$25 milhões da verba de contingenciamento que o Ministério da Educação deveria ter repassado, inviabilizando assim o pagamento de contas de manutenção.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) August 13, 2019
O caso da UFRJ, uma das maiores universidades do Brasil, é emblemático, mas não isolado. Em todo o país, estudantes, professores e outros profissionais da área educacional vêm criticando a maneira como as autoridades têm tratado o setor, um dos mais afetados pelas medidas de austeridade da administração Bolsonaro.
A tensão na educação já estava alta quando o governo decidiu apresentar, em meados do mês passado, o polêmico programa Future-se, a fim de aumentar a autonomia das universidades e institutos federais, iniciativa que, para a União Nacional dos Estudantes (UNE) e outras 186 entidades estudantis, vai na contramão dos anseios e necessidades da educação pública brasileira.
— UNE (@uneoficial) August 13, 2019
Os protestos desta terça-feira, de acordo com o professor de Física Felipe Rosa, diretor da Associação de Docentes da UFRJ, tiveram como objetivo, primeiramente, pedir a anulação dos contingenciamentos e, além disso, estimular a população a reivindicar seus direitos, entre os quais se destaca o de acesso a uma educação pública gratuita e de qualidade.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o acadêmico afirma que, no momento, é péssima a relação entre os representantes da categoria e o atual Ministério da Educação, dificultando qualquer possibilidade de diálogo.
"A própria implementação do Future-se, que foi uma coisa de cima para baixo, sem nenhuma discussão com as universidades, mostra o quão pouco aberto o governo está ao diálogo. E isso é uma coisa preocupante, é uma coisa que a gente também quer chamar a atenção nas ruas", afirmou o especialista. "Primeiro, sobretudo, a gente quer conseguir conversar, abrir um canal de diálogo para o governo entender que a situação das universidades é muito ruim, é crítica."
Para Rosa, o país está passando por um processo de normalização de certos comportamentos e discursos polêmicos proferidos por autoridades. E estes, em vez de servirem para mobilizar as massas, como antes, não estão surtindo o efeito esperado da indignação.
"Eu confesso que estou um pouco preocupado com isso", disse ele, se referindo à falta de reação de muitas pessoas a declarações absurdas do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do presidente Jair Bolsonaro. "Acho que esse efeito já foi mais forte. Ele ainda existe, mas acho que já foi mais forte. As pessoas já se mobilizaram mais por conta dos absurdos ditos, enfim, pelo ministro como voz do governo."