Alberto Fernández recebeu 47% dos votos no pleito, contra 32% de Mauricio Macri. Diferença de quase 15 pontos percentuais.
A possível vitória de Alberto Fernández gerou temores sobre o futuro do acordo de livre-comércio firmado em julho entre Mercosul e a União Europeia. Durante a campanha, Fernández afirmou que o tratado fechado com a União Europeia, que prevê o fim de tarifas de importação para boa parte dos produtos em até 15 anos, precisaria ser revisto. Segundo o candidato, o acordo condenará a Argentina à “desindustrialização” e só foi fechado porque Macri tinha motivações eleitorais.
Porém, em entrevista à Sputnik Brasil, Welber Barral, secretário de Comércio Exterior nos governos Lula e Dilma Rousseff, disse que seja qual for a posição de Fernandez não afetará o andamento do acordo.
"Esse acordo tem uma cláusula muito interessante, o acordo prevê que os países do Mercosul poderão ratificar individualmente a sua participação no acordo. Se por acaso a Argentina atrasar a retificação, o Brasil, Paraguai e Uruguai poderão acelerar independentemente do voto argentino, ou seja, o Brasil poderá ratificar o acordo com a União Europeia independentemente dos demais membros do Mercosul", explicou.
Barral disse que esse tipo de cláusula não é comum no Mercosul.
"Não é comum em acordos internacionais que o Mercosul assina e que protege a evolução do acordo independentemente da eleição na Argentina", comentou.
Barral alertou, no entanto, que a maior barreira para o acordo Mercosul e União Europeia é a própria política de Jair Bolsonaro.
"O que compromete mais a continuidade do acordo é mais a questão das posições que o Brasil tem adotado na área ambiental", afirmou.
Welber Barral comentou que, apesar do acordo entre União Europeia e Mercosul conseguir ser tramitado, a relação comercial entre Brasil e Argentina pode ser abalada.
"Embora não dependamos da posição argentina para ratificar este acordo, evidentemente um governo peronista tende a ser mais protecionista do que foi o governo Macri. Adotando medidas de barreiras não-tarifárias, licenças de importação, declarações juradas que atrapalharam muito o comércio-bilateral com o Brasil. Esse risco existe, especialmente sendo a Argentina um dos principais destinos de exportações brasileiras", complementou.