Os discursos antiambientalistas do governo brasileiro, o aumento do uso de agrotóxicos e os recentes desmatamentos e queimadas que têm devastado o país acenderam o alerta para produtores e exportadores de gêneros agroindustriais, que identificam uma distorção na imagem do Brasil que poderia levar a prejuízos econômicos para o setor.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) August 21, 2019
Em audiência pública na Comissão de Agricultura do Senado (CRA) na última quarta-feira, representantes do agronegócio chamaram a atenção para perdas ligadas a uma "guerra da informação" com movimentos internacionais que teriam interesse em prejudicar o Brasil.
Para o diplomata Norberto Moretti, secretário de política externa comercial do Itamaraty, o momento exige que o país realize um esforço conjunto para reverter essa situação "degenerada" e alterar as percepções que vêm se consolidando no exterior.
"A imagem de nosso país no exterior tornou-se uma preocupação de todos, no governo e no setor privado. Virou um tema de crucial relevância. Uma percepção equivocada sobre nosso agronegócio vem se sobrepujando, resultado em parte de ignorância, em parte de má-fé e interesses inconfessáveis. Várias forças se conjugaram visando consolidar uma imagem equivocada sobre a sustentabilidade ambiental e a segurança social de nosso agro", disse Moretti, citado pela Agência Senado.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) August 22, 2019
De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, as queimadas na Amazônia que vêm chamando a atenção do mundo nos últimos dias não são uma grande novidade, já que as mesmas sempre ocorreram no Brasil. Para ele, as dimensões maiores do impacto causado na opinião pública se devem, possivelmente, a uma "divulgação mais acelerada" pela imprensa.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista diz que, independentemente do fato de a recente devastação ser maior ou menor do que as anteriores, isso acaba gerando, sim, uma grande preocupação, dada a responsabilidade do Brasil de "alimentar o mundo".
"Se, eventualmente, o processo de dificuldade para ingressar o produto brasileiro no exterior for consumado, nós vamos ter dificuldade de abastecer o mundo com alimentos", declara Castro.
Questionado sobre as declarações de Norberto Moretti sobre uma possível guerra de informação ligada às pautas ambientais do Brasil, o presidente da AEB afirma concordar em princípio com a hipótese, mas reconhece não haver garantias sobre essa suposição. O grande problema nesse caso, destaca, seria, na verdade, a falta de eficiência na comunicação do atual governo.
"A comunicação dele [do governo de Jair Bolsonaro] não é o forte. Então, ele acaba sendo muito atacado por questões de comunicação. Agora, eu não tenho dados concretos para informar que isso de fato esteja acontecendo. Mas é possível."
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) August 22, 2019
O engenheiro agrônomo Marcos Fava Neves, professor das Faculdades de Administração da Universidade de São Paulo (USP) na capital e em Ribeirão Preto, acredita que a atual preocupação do setor agropecuário em relação às consequências dessa imagem negativa que vem sendo divulgada do Brasil afeta, na verdade, toda a sociedade brasileira.
Também em declarações à Sputnik, o acadêmico explica que o Brasil vinha se posicionando como uma potência ambiental por ter a matriz energética mais limpa entre os grandes países, por ter mais de 60% da sua área preservada e por ter um código florestal dos mais rigorosos. Segundo ele, todo esse potencial que o país tinha para ser "a economia verde do mundo" foi prejudicado, nas duas últimas semanas, por conta de "deturpações feitas com dados que não são verdadeiros".
"Isso tudo desposiciona, momentaneamente, o Brasil como potência climática ambiental, como país que assinou, na última reunião ministerial do clima, um dos protocolos mais arrojados do mundo. Nós vimos erodir essa imagem em 15 dias. Então, essa é uma preocupação da sociedade brasileira."
Ainda de acordo com Fava Neves, há, atualmente, uma atitude de má fé de oportunistas que estão vinculando a questão das queimadas na Amazônia com a produção de alimentos no país. Isso, ele afirma, está sendo feito por "gente que não quer o crescimento do Brasil, por gente que teve sua participação de mercado ofuscada pelo nosso grande crescimento nos últimos anos e por pessoas que estão pegando carona num oportunismo" para ver se conseguem algum tipo de embargo momentâneo à produção brasileira.
"Essa tentativa de se ligar a Amazônia à produção brasileira de alimentos é um gesto de má fé que tem que ser combatido de maneira violenta pela nossa sociedade, porque ele ameaça o desenvolvimento social do Brasil."
Boicote em curso
De acordo com o secretário de política externa comercial do Itamaraty, recentemente, o parlamento de um país europeu interpelou o diretor executivo de uma empresa por conta de suas produções no Brasil. Além disso, os efeitos disso que ele considera uma guerra de informações também teria levado a rede de supermercados sueca Paradiset a liderar um boicote contra produtos brasileiros, retirando de suas prateleiras itens como café, águas-de-coco, chocolates, limões e mangas produzidas aqui, alegando que o Brasil virou "o paraíso dos agrotóxicos".