A cavidade óssea foi encontrada enterrada perto da margem de um antigo lago na região de Afar, na Etiópia, em fevereiro de 2016 e pertence a um Australopithecus anamensis, a espécie mais antiga de seu gênero, conhecido por ser o primeiro a se mover em duas pernas e dar origem ao gênero Homo.
A boa conservação do crânio, denominado MRD-VP-1/1, permitiu recriar a face deste hominídeo, informou a equipe internacional de antropólogos em um artigo publicado na revista Nature.
Suspeita-se que o indivíduo era um homem, como indicado pelo tamanho de seus ossos.
O fóssil tem cerca de 3,8 milhões de anos e revela uma face óssea com mandíbula saliente e grandes dentes caninos, muito semelhante à da famosa Lucy, um espécime de Australopithecus afarensis quase completo encontrado na mesma região em 1974.
"Até agora, tínhamos uma grande diferença entre os mais antigos ancestrais humanos conhecidos [...] e espécies como Lucy, que têm entre dois e três milhões de anos. Um dos aspectos mais emocionantes desta descoberta é como ela une o espaço morfológico entre estes dois grupos", afirmou Stephanie Melillo, uma das autoras do estudo, em um comunicado emitido pelo Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva.
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"A nova descoberta sugere que as duas espécies viveram juntas em Afar durante algum tempo. Isto muda a nossa compreensão do processo evolutivo e levanta novas questões: Será que eles competiram por comida ou território?", questiona Melillo.
Para o coautor do estudo e paleoantropólogo, Yohannes Haile-Selassie, essa descoberta é "um divisor de águas na nossa compreensão da evolução humana durante o Plioceno".
"O que sabíamos sobre o Australopithecus anamensis até agora era limitado a fragmentos isolados de mandíbula e dentes. Nós não tínhamos restos do rosto ou do crânio, exceto por um pequeno fragmento perto da região da orelha", conclui Haile-Selassie.