Na última quarta-feira (4), o Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou uma carta escrita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o povo brasileiro, na qual ele faz pesadas críticas ao governo de Jair Messias Bolsonaro, formado, segundo ele, por traidores.
No documento em questão, Lula acusa a atual administração de destroçar o país, "entregando criminosamente as empresas, os bancos públicos, o petróleo, os minerais e o patrimônio" que pertencem ao povo e fazendo sofrer os trabalhadores e os mais pobres.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 4, 2019
Indo além, o ex-presidente também acusa o atual e seus aliados de entregar nossa política externa aos Estados Unidos e de dar a eles a base de Alcântara, de rebaixar a diplomacia a um assunto de família e de brincar de guerra com os europeus, entre outras coisas que tornam urgente "enfrentá-los", para "salvar o futuro".
Para o cientista político Carlos Ranulfo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é inegável que, atualmente, Lula ainda é a maior liderança popular do Brasil em termos de oposição, e é natural, que, estando preso, ele se manifeste dessa forma, através de cartas publicadas de vez em quando.
"Se o Lula estivesse fora da cadeia, imagino que a situação do Bolsonaro estaria um pouco mais complicada. Talvez até o país estivesse mais polarizado. Ele iria sair pelo país e, hoje, o prestígio do Bolsonaro caiu demais", disse o professor em entrevista à Spunik Brasil.
Avaliando o conteúdo desse último comunicado, o especialista considera que o ex-chefe de Estado não falou nada muito diferente do que já vem sendo discutido por um grande número de pessoas.
"Eu acho que, hoje, é muito difícil você achar quem não critique o Bolsonaro. Então, o Lula não está sozinho. Você vai encontrar gente de todos os espectros, centro, esquerda, direita, com críticas mais ou menos ásperas ao governo Bolsonaro, que é um governo muito ruim. O Lula não está falando nada de novidade."
Na opinião de Ranulfo, de todos os erros que o atual governo já cometeu até agora, os piores estão na área ambiental. Para ele, seria o caso de o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pedir demissão.
"Assim como o ministro da Educação, não são sequer ministros sérios. Eles acham que ali é a casa deles. Eu acho que nem precisaria do Lula para mudar a narrativa da questão ambiental. O governo Bolsonaro já perdeu essa narrativa há muito tempo. O que ele fala sobre Amazônia e meio ambiente é ouvido só por aquele núcleo muito restrito do bolsonarismo."
Ainda segundo o cientista político da UFMG, considerando o atual cenário político do país e o papel desempenhado pelas figuras de maior destaque, a oposição precisa entender que, apesar da importância de Lula, ele "está em fim de carreira" e é preciso construir novas lideranças.
"O Lula, com todo respeito ao passado dele, não é mais uma alternativa. Ele é uma referência, ele é um ponto de apoio, ele é uma voz que tem que ser ouvida e que fala com a sociedade, mas ele não é mais a referência do futuro. A esquerda brasileira tem que pensar no futuro."