Conflito híbrido: qual seria o plano do Pentágono para a fronteira entre Colômbia e Venezuela?

© Sputnik / Mikhail Alaeddin / Acessar o banco de imagensMilitares venezuelanos fazem cordão de isolamento na ponte Simón Bolívar, que conecta a Venezuela com a Colômbia
Militares venezuelanos fazem cordão de isolamento na ponte Simón Bolívar, que conecta a Venezuela com a Colômbia - Sputnik Brasil
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Na atual situação venezuelana, o presidente Nicolás Maduro ordenou que as Forças Armadas do país "elevassem o nível para alerta laranja" perante um possível ataque da Colômbia ao território nacional.

Jeff Cooper, criador do código de cores com o qual geralmente associamos níveis de ameaça, escreveu em seu livro "Princípios de Autodefesa" que muito mais importante do que as armas ou a experiência em manuseá-las é constituir uma verdadeira mentalidade de combate.

Embora os protocolos que correspondem a este nível sejam confidenciais ou restritos, é possível prever as ações de pré-guerra de um Estado e abrir o debate sobre como propor uma defesa integral da nação, opina o colunista da Sputnik Mundo José Negrón Valera.

'Zona Autônoma Temporária'

Sob o grande guarda-chuva da estratégia não convencional, o tenente-coronel dos Marines dos EUA, Frank Hoffman, impulsionou a noção de "guerra híbrida" para definir guerras que podem ser conduzidas e combatidas tanto por Estados, como por "uma variedade de atores não estatais, incorporando uma variedade de diferentes modos de guerra, incluindo capacidades convencionais, tácticas e formações irregulares, atos terroristas incluindo coerção, violência indiscriminada e desordem criminal".

"Estas atividades multimodais podem ser conduzidas por unidades separadas ou mesmo pela mesma [unidade], mas são operacionalmente e taticamente dirigidas dentro do mesmo campo de batalha para alcançar efeitos sinérgicos em todos os níveis da guerra", salienta Hoffman.

Para o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, general Valery Gerasimov, as guerras no século XXI não seriam mais declaradas, nem se desenvolveriam em um "padrão habitual", sendo mais importantes os métodos e táticas não militares do que as armas em si.

Hoffman declarou que o objetivo de um conflito híbrido seria avançar "na desintegração social interna e na quebra da vontade política do adversário", tratando-se de uma estratégia sociopolítica e não de uma estratégia militar.

O escritor e historiador Hakim Bey, em seu livro "Zona Autônoma Temporária" (TAZ), poderia esclarecer o que aconteceria nos próximos meses nos mais de 2 mil km de fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. Essa área temporariamente autônoma define um espaço onde os limites do poder estabelecido pelo Estado foram ofuscados.

© REUTERS / Carlos Eduardo RamirezGuarda Nacional da Venezuela na fronteira com a Colômbia
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Guarda Nacional da Venezuela na fronteira com a Colômbia

Quando o Estado ou a lógica social se quebra, por não responder às expectativas dos indivíduos, estes se refazem em várias formas e mecanismos de interação onde surgem novas éticas e os territórios já não seguem as coordenadas impostas pelas constituições nacionais, mas pelas expectativas de compreensão da nova circunstância. Para quem conhece a realidade da fronteira venezuelano-colombiana, essas considerações se tornam familiares, escreve o jornalista.

Do alerta laranja ao vermelho

Para o colunista, a linha de fronteira não é determinada pelos Estados, mas pelas necessidades das comunidades locais. Colombianos atravessam a fronteira para serem tratados em hospitais gratuitos na Venezuela e muitos venezuelanos atravessam a fronteira para trabalhar temporariamente ou fazer compras na Colômbia – dessa forma, criam-se novas identidades fronteiriças.

Uma escalada no nível de violência na fronteira pode degenerar na emergência de um novo tipo de território de fato, que não será venezuelano nem colombiano, mas terá a guerra como sua única identidade.

A guerra proposta por Washington busca transformar este território em uma zona desregulamentada e, portanto, administrar a linha de fronteira, desaparecendo a capacidade do Estado venezuelano de atuar neste espaço, explica Valera.

Mas o deslocamento de fato da linha territorial tenta levar o ataque contra a guerrilha para a Venezuela – um falso positivo que poderia forçar as Forças Armadas venezuelanas a passar do alerta laranja para o vermelho.

© Foto / Google MapsColômbia e Venezuela
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Colômbia e Venezuela

Na hipótese avançada pelo Pentágono, pode não estar prevista uma intervenção militar direta na Venezuela, mas uma deterioração das condições de vida na fronteira. Washington demonstraria assim que não só é capaz de minar a economia da Venezuela, como também a sua integridade territorial, ressalta o autor do artigo.

Guerra não tradicional

Mary Kaldor, uma especialista em novas guerras, considerou que hoje "a vitória não é mais baseada na capacidade de infligir destruição em massa, mas na capacidade de lutar contra o apoio popular dos oponentes".

Portanto, acredita o jornalista, se a Venezuela está imersa em uma guerra onde todo o espectro social é atacado para enfraquecer a moral e o apoio ao governo nacional, qualquer crítica ou apontamento que vise atacar os múltiplos flancos deve ser visto como insumo para a luta contra o verdadeiro inimigo que é, em última instância, o imperialismo dos EUA.

O colunista conclui explicando que assumir e agir sobre a crítica popular necessária é desenvolver uma verdadeira mentalidade de combate, possivelmente a única que garante a legitimidade governamental e a coesão social: se a estratégia aplicada contra a Venezuela não é tradicional, por que o deveria ser seu esquema de análise e defesa?

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