No dia 11 de setembro, 46 anos depois do golpe de Estado no Chile, a Sputnik conta os detalhes deste projeto desafiador que busca recuperar a história da resistência.
Os desenvolvedores queriam levar uma temática latino-americana para a indústria de videogames. Queriam contar como se lutava a partir da clandestinidade contra a repressão desde que o general Augusto Pinochet derrubou o governo de Salvador Allende e instaurou 13 anos de ditadura, em 11 de setembro de 1973. Queriam "expressar e refletir" como se formou o Chile atual: o que se passou entre o projeto de socialismo democrático de Allende e o capitalismo neoliberal de hoje.
Guerras Sujas conta isso através de cenários de Santiago na década de 70 reconstituídos, pelos quais transitam Maximiliano e Abigaíl, um jovem casal militante que decide ficar no país para se unir à resistência. Ambos são membros dos Comitês Revolucionários (COMIREV) e devem assumir uma vida na clandestinidade que implica múltiplos desafios e sacrifícios.
No entanto, este videogame não é um típico videogame de guerra. Jorge Olivares, diretor do projeto, explicou à Sputnik que, sendo o videogame baseado em um conflito assimétrico e de baixa intensidade (uma "guerra suja" do terrorismo de Estado contra grupos de resistência com pouco armamento), o videogame é impensável dentro da lógica do enfrentamento armado.
"É mais importante a informação que as armas para sobreviver, e isso inclui se camuflar, gerar comunicações entre diferentes estruturas da organização e enganar a repressão ditatorial passado despercebido", disse Olivares.
Este videogame se propõe como um novo gênero dentro da indústria, onde a narração de uma história é dada "através de mecânicas de discrição, quebra-cabeças e gerenciamento da informação do jogador para resguardar identidades, se comunicar clandestinamente e gerar operações de contraespionagem".
A história atrás da tela
Olivares é sociólogo e compositor de bandas sonoras para videogames. Contou que quando estudava na universidade se "alimentou" da literatura que narra a vivência da resistência no Chile e que, perante a "comoção e inspiração", surgiu a ideia de mudar o formato no qual tradicionalmente era contada a repressão sofrida no passado recente do seu país.
"Transformamos as testemunhas e as vivências da vida na clandestinidade e resistência à ditadura cívico-militar chilena em um videogame e mecânicas de videogame […] No fundo, temos de mediar com uma experiência diferente do que é narrar a história como pode ser em um livro ou em um filme", sublinhou Olivares.