O ponto crucial da metodologia de cálculo da gestora americana de investimentos globais AllianceBernstein, segundo a qual a dívida dos EUA equivale a 1.832% do PIB, é incluir não apenas os títulos públicos, mas a dívida em toda a sua diversidade, ou seja, as obrigações futuras dos chamados programas sociais: Medicare (sistema de seguros de saúde), pensões etc.
Para o colunista da Sputnik Ivan Danilov, as conclusões e sugestões dos analistas preparam a sociedade para futuros cortes nos gastos sociais e outros elementos estatais de bem-estar social.
Cálculo do déficit
No que se refere à dívida pública norte-americana, o valor de US$ 22,5 trilhões (R$ 90,7 trilhões), que corresponde a 106% do PIB, é geralmente mencionado.
Segundo especialistas otimistas, que acreditam que a questão do déficit não existe (pois não inclui o endividamento do Departamento do Tesouro para com outras agências e fundos públicos), a dívida é de apenas 78% do PIB dos EUA – US$ 16,7 trilhões (R$ 67 trilhões).
Mas os partidários desta forma de cálculo partem do raro pressuposto de que os compromissos do Tesouro dos EUA para com as estruturas públicas que pagam pensões, medicamentos e subsídios de todos os tipos não têm de ser cumpridos.
O economista-chefe da AllianceBernstein, Philipp Carlsson-Szlezak, que inclui em seus cálculos todas as obrigações dos EUA como país, conclui que a dívida total é superior a US$ 388 bilhões (R$ 1,5 trilhão).
Para não minar a confiança e salvar os investidores, propõe-se sacrificar o bem-estar dos cidadãos comuns americanos, diz Carlsson-Szlezak, citado pelo canal americano CNBC, que transmitiu uma análise intitulada "O nível real da dívida dos EUA pode atingir 2.000% da economia nacional".
Mercados globais em risco
Na opinião do especialista, a inadimplência dos títulos dos EUA certamente seria uma catástrofe para os mercados mundiais. É indicativo que a da Rússia não seria muito afetada, porque há muito tempo a carteira obrigacionista dos EUA foi vendida para os riscos de sanções, embora indiretamente como parte da economia mundial.
A receita de Donald Trump para resolver o problema da dívida é desvalorizar constantemente o dólar porque "a economia americana é uma bolha financeira", como ainda afirmou em sua campanha pré-eleitoral, opina o analista.
Danilov explica que, desta forma, as obrigações poderiam ser cumpridas, o que levaria o sistema financeiro global à depressão, mas os compromissos formalmente sociais seriam cobertos.