Alguns dos elementos descobertos indicam que a ocupação da Floresta Amazônica antes da chegada dos colonos portugueses, em 1.500, pode ter sido muito maior do que se imagina.
As crônicas do missionário espanhol Gaspar de Carvajal, que fez uma viagem pelo rio Amazonas no século XVI, descrevem uma área cheia de povos indígenas antes da chegada dos europeus na região.
Essas e outras crônicas da época, que relatam a intensa presença humana na região, foram consideradas exageradas e fantasiosas. Porém, trabalhos recentes de pesquisadores brasileiros confirmam esses dados.
"Não podemos dizer que é um sítio arqueológico só. O que a gente está vendo é um complexo arqueológico de vários sítios, que podem ter histórias diferentes, mas que estão interligadas", disse Rafael Lopes, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia do Instituto Mamirauá.
Pesquisadores descobrem complexo arqueológico na Amazônia Central https://t.co/7iN3UY2X05 pic.twitter.com/8pVI6UBxXc
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No local foi descoberta uma grande quantidade de vestígios arqueológicos de diferentes períodos de ao menos cinco ocupações humanas diferentes no local. Dentre essas descobertas há cerâmicas da tradição Pocó, que podem ter até 3 mil anos.
Como tradição, os antigos habitantes desses lugares usavam tintas marrom, vermelha, preta e branca para decorar os pratos. Louça semelhante foi encontrada nas descrições das crônicas do sacerdote espanhol.
Indício de atividade humana
Perto do complexo arqueológico foi encontrada uma floresta de castanheiros que, embora se estenda por quilômetros ao longo do rio, não ultrapassa os 500 metros de largura. Este padrão não natural de dispersão de árvores é uma indicação de atividades agrícolas durante centenas de anos.
Outra evidência é a presença de terra preta – um solo extremamente fértil associado a uma ocupação humana de longa data do mesmo local.
Cientistas têm coletado material orgânico para datação por radiocarbono, o que permitirá uma melhor compreensão das datas associadas às diferentes ocupações e sua relação com o meio envolvente.
"O mais impressionante do sítio foi a diversidade do contexto arqueológico que ele mostrou. Ficamos um mês aqui trabalhando e conhecemos 1% dele", ressalta Lopes.
Arqueologia da Amazônia
Para o arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Eduardo Neves, o sítio tem grande potencial para o estudo de diferentes ocupações que ocorreram nessa região da Amazônia.
"Não só pela parte da arqueologia, mas essa perspectiva de integração entre a arqueologia e a história da paisagem. Temos questões muito relevantes aqui para a arqueologia de toda a Amazônia", explica.
A Floresta Nacional de Tefé (Flona) é uma unidade de conservação federal sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).