Na linha de frente do esforço brasileiro está a ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que em um evento na Hungria recentemente propagou a iniciativa de unir "países amigos da família".
O foco dessa movimentação seria o tema de gênero e educação sexual em órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo publicado pelo colunista Jamil Chade no UOL, diplomatas brasileiros já esperam o apoio de países europeus como Hungria, República Tcheca e Polônia. Além deles, o Estados Unidos também cogitam apoiar a medida, segundo a publicação.
Além um bloco de "defensores da família" liderado pelo Egito e com membros de países islâmicos e conservadores do Oriente Médio também acenam para uma aproximação com o Brasil nessa temática.
Para o deputado federal Delegado Pablo (PSL-AM), a medida recebe apoio dos eleitores que acreditaram em Jair Bolsonaro.
"O nosso presidente [Jair Bolsonaro] foi eleito por 57 milhões de brasileiros que acreditam nesse resgate de valores, valores básicos em que a nossa sociedade é construída", disse o deputado federal em entrevista à Sputnik Brasil.
Para o deputado, o principal destes valores é justamente a "família".
"O principal valor é a família, que vem sofrendo ataques de todos os lados de pessoas que querem destruir esse patrimônio que é a família brasileira", argumenta.
O deputado também acusou os governos anteriores de interferência nas "opções sexuais das pessoas", criticando a chamada "ideologia de gênero", tema que ganhou espaço na política mas que é refutado por especialistas.
"O trabalho contra a ideologia de gênero, brigar contra essa influência de atividades estatais tentando mexer nas escolhas sexuais é realmente uma situação bem importante, bem sensível, e que faz parte do trabalho da ministra", aponta.
Postura reverte posição histórica e cria riscos para o Brasil
Já o cientista político Guilherme Carvalhido, professor da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, não concorda com essa visão. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele expressou preocupação com a imagem internacional brasileira diante dessa nova iniciativa.
"Isso talvez leve a uma situação mais complicada, depositando ao país uma imagem conservadora, principalmente se tratando de assuntos internacionais", afirma o professor.
Carvalhido recorda que essa postura reverte a forma como o Brasil tratou o tema nas últimas décadas.
"Ao longo da sua trajetória, sobretudo a partir dos anos 90 do século passado, o Brasil vem afinando estruturas dentro da ONU em defesa das minorias e nunca trabalhando em defesa de grupos que sejam discriminatórios", explica.
O cientista político Guilherme Carvalhido acredita que dessa forma o Brasil corre o risco de ser visto como alinhado a países conservadores em que a mulher tem menos direitos dos que os homens.
"O que eu acho mais preocupante do ponto de vista político é se o Brasil ficar associado a países do Oriente Médio que são extremamente ligados a essa pauta também e que acabam, infelizmente, desvirtuando e apresentando a imagem, sobretudo feminina, como uma espécie de ser humano inferior - o que eu acho que é muito grave para a imagem do Brasil", aponta o professor.
O deputado do PSL, Delegado Pablo, por sua vez, não vê esse risco.
"Acredito que a ideia que a ministra quer colocar - e o governo federal, de uma maneira geral - é de que o povo brasileiro tem as suas escolhas", aponta.
Já Carvalhido assinala que, apesar de essa possibilidade ter potencial de prejudicar as relações brasileiras com outros países no Ocidente, a atual postura pode ainda ser encarada como apenas uma questão de governo, e não de Estado.
"Como é uma pauta do governo e não é uma política geral, talvez isso seja apenas momentâneo", pontua.