Nesta segunda-feira (23), o diretor da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA, na sigla em inglês), Steven Walker, revelou que as Forças Armadas norte-americanas estão próximas de se tornar ainda mais intrusivas, caso pesquisadores consigam editar o genoma de seus soldados com sucesso.
"Por que a DARPA está fazendo isso? [Para] proteger um soldado no campo de batalha contra armas químicas e bacteriológicas controlando o seu genoma, garantindo que o genoma produza proteínas que automaticamente irão protegê-lo dos pés à cabeça", explicou Walker, falando nesta segunda-feira (23) em um painel promovido pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
O diretor reconheceu que a ideia pode soar um pouco heterodoxa, mas insistiu que os esforços de edição genética promovidos pela agência seriam, primordialmente, para proteger as tropas, e não para aprimorá-las.
"Essas tecnologias são de uso dual. Você pode usá-las para o bem ou para o mal. A DARPA está empenhada em usá-las para o bem, para proteger os nossos combatentes", alegou Walker, de acordo com o informe do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Se as pesquisas forem bem-sucedidas, a DARPA poderá ir mais longe e fornecer às Forças Armadas uma alternativa ao uso de vacinas.
"Será impossível estocar vacina e antivírus suficiente para proteger uma população inteira no futuro [...] Até agora, tudo o que temos é pesquisa, não temos essa capacidade ainda", reiterou. "Mas é por essas razões que queremos, se possível, transformar o nosso corpo em uma fábrica de anticorpos."
Para que a técnica seja útil, será necessário desenvolver ainda a capacidade de remover os genes editados, a chamada "remediação genética". O programa "Genes Seguros" da DARPA terá o objetivo ambicioso de reverter os efeitos da já conhecida técnica de Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas (CRISPR, na sigla em inglês).
Essa técnica foi motivo de controvérsia na China recentemente, após um cientista alterar dois embriões produzidos com o esperma de um dador HIV-positivo e implantá-los em uma mãe HIV-negativa, com o intuito de gerar crianças imunes ao vírus.
Conforme apontou Walker, a tecnologia é de uso dual. Por exemplo, no início deste mês, a Universidade de Pequim publicou um estudo na Revista de Medicina de New England, na qual revelou ter tratado com sucesso um paciente sofrendo de leucemia linfoblástica aguda utilizando a técnica CRISPR.