O evento solicitado pelo senador Espiridião Amim (PP-SC) foi endossado por outros 7 parlamentares e realizado nesta quinta-feira (26). Representando o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o diplomata Sidney Romero reafirmou que o Brasil defende "uma solução de dois Estados".
"Nossos laços culturais, econômicos e políticos com o mundo árabe são inquebrantáveis. A visita do presidente Jair Bolsonaro à Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, em outubro próximo, a ser realizada ainda em seu primeiro ano de mandato, reforça, inequivocamente, a importância de nosso relacionamento com os países da região", afirmou Romero, que é diretor do Departamento de Oriente Médio do Itamaraty, durante o evento.
Em 2018, o Brasil exportou US$ 28,93 milhões para a Palestina e importou US$ 390 mil, indicam dados do Ministério da Economia. O item mais vendido pelos comerciantes brasileiros aos palestinos foi carne bovina, que representou 71% das exportações do período.
"A embaixada da Palestina [no Brasil] é a primeira das Américas. As relações sempre foram boas e foram avançando desde 1947, quando foi aprovada a Partilha da Palestina e implicitamente reconhecido o Estado da Palestina", afirma em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben.
Sob a direção do brasileiro Osvaldo Aranha, a ONU aprovou em 1947 a divisão de um Estado judeu e outro árabe. A relação entre Israel e Palestina, contudo, foi e é marcada por conflitos e disputas diplomáticas. A Palestina foi aceita como Estado observador não-membro pela ONU apenas em 2012.
Bolsonaro e a Palestina
Durante a campanha, o então presidenciável Jair Bolsonaro prometeu seguir a decisão dos Estados Unidos, que não reconhecem a Palestina como Estado, e transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Após ser eleito e empossado, Bolsonaro recuou na promessa, que se transformou em um escritório comercial, embora o plano ainda esteja apenas no papel.
Samuel Feldberg, professor de Relações Internacionais da USP e pesquisador convidado na Universidade de Tel Aviv, avalia que o recuo de Bolsonaro foi uma vitória do "pragmatismo" do mundo diplomático.
"Houve uma reação muito forte do sistema internacional, inclusive com ameaças de boicotes à exportações brasileiras aos países árabes. Portanto, o pragmatismo venceu e a chancelaria brasileira decidiu que não era mais prudente insistir nessa ideia [de transferência da embaixada]", diz Feldberg à Sputnik Brasil.
Ainda de acordo com o professor da USP, a relação entre Brasil e Palestina passou por uma "variação na qualidade da relação": "O Brasil se manteve relativamente equidistante durante muito tempo. Mas houve uma mudança significativa durante o período do governo do PT e agora, novamente, uma mudança com a chegada de Bolsonaro ao poder. Uma aproximação com os palestinos no governo PT e agora uma aproximação com Israel, e consequente afastamento dos palestinos."
Sobre as novas diretrizes da diplomacia brasileira, Alzeben afirma:
"A relação é normal, dentro do marco das relações diplomáticas e dos parâmetros diplomáticos. Como diplomatas, temos que manter o diálogo e o contato. Transladar a embaixada para Jerusalém, ou mexer com o tema de Jerusalém, não é ofensivo para a Palestina ou para o mundo árabe e islâmico, é ofensivo ao direito internacional. A ONU não reconhece Jerusalém como capital de Israel, reconhece Jerusalém Oriental como território ocupado."