A declaração de Richard Dearlove, cabeça do serviço de inteligência britânico MI6 na época, foi feita após a morte do ex-chefe de Estado francês, ocorrida no último dia 26.
Dearlove acrescenta que os reais motivos de Chirac em não apoiar a coalizão encabeçada pelos Estados Unidos contra o Iraque estavam "nas suas relações pessoais" com Saddam Hussein, até então presidente do Iraque.
"Em sua biografia é dito que Chirac fez o que estava certo [em relação ao Iraque] e que todos nós estávamos no lado errado. Mas eu digo que o motivo de Chirac ter agido assim não parece ser o que realmente é", publicou a fala do britânico o Dailymail.
Na ocasião, Chirac encabeçou uma frente contra a coalizão dos Estados Unidos. Ele obteve o apoio da Alemanha e Rússia. Por sua parte, Washington afirmava que Saddam escondia armas de destruição em massa, as quais nunca foram encontradas.
A oposição de Chirac à guerra afetou as relações franco-americanas por um período. Além disso, ela não impediu a invasão norte-americana ao Iraque.
Na mesma época, tanto o MI6 quanto a inteligência americana tinham obtido "informações confiáveis" de que Saddam Hussein enviou US$ 6,16 milhões (cerca de R$ 25 milhões) a Chirac, a partir de sua conta pessoal, segundo Dearlove. O dinheiro teria chegado ao presidente francês por meio de intermediários.
Relações antigas
Não é segredo que Jacques Chirac conhecia Saddam Hussein desde a década de 1970. No momento, Chirac ocupava o cargo de primeiro-ministro francês, enquanto Saddam Hussein era o vice-presidente de seu país.
"Chirac possuía uma relação de longa data com Saddam, o que não era de nível político, mas pessoal", afirmou Dearlove.
Na mesma década, a França colaborou com o desenvolvimento do programa nuclear iraquiano, o que resultou na construção da usina nuclear de Osirak, apelidada de O-Chirac.
Repercussão
Embora a embaixada francesa em Londres não tenha comentado a fala de Dearlove, a porta-voz da França para o Reino Unido, Aurelie Bonal, disse que "a história mostrou quem tomou a decisão certa".
Também o ex-ministro das Relações Exteriores do Reino Unido Malcolm Rifkind disse que a oposição da França à guerra não foi uma decisão única de Chirac.
"Independentemente das razões pessoais, Chirac ter-se-ia oposto à guerra porque o público francês se opôs a ela veementemente", declarou Rifkind.