O presidente da Rússia Vladimir Putin revelou estes planos ao falar no Clube Internacional de Discussões Valdai na semana passada. A Rússia acabou de criar um sistema semelhante, que abrange todo o seu território, em 2017.
Proteção contra ataque inesperado
Especialistas observaram que o novo sistema chinês afastaria o risco de qualquer primeiro ataque inesperado dos Estados Unidos, embora observando que tal ataque parece ser puramente teórico.
Miles Pomper, membro sênior do escritório de Washington do Centro de Estudos de Não-proliferação James Martin do Instituto Middlebury, disse que "o sistema reduzirá primeiramente o risco de a China sofrer uma 'surpresa estratégica' dos Estados Unidos".
"Por exemplo, um primeiro ataque nuclear vindo do nada que não permitisse à China lançar suas armas nucleares em retaliação antes de serem destruídas (por outras razões, não havia grande chance de que isso pudesse ocorrer de qualquer maneira, mas isso reduz a possibilidade)", disse ele à Sputnik Internacional.
Importância para China
O sistema, disse ele, também "abre a porta para a implantação da defesa contra mísseis balísticos chinesa e de capacidades antissatélite integradas".
Nikolai Sokov, do Centro de Viena para Desarmamento e Não-Proliferação, por sua vez, observou que o sistema de alerta precoce era "particularmente importante para a China, cujo arsenal é pequeno em comparação com o dos EUA e que pode perder suas armas se for forçada a enfrentar um ataque".
"Com sistemas robustos de alerta precoce, ela será capaz de lançá-las antes que as ogivas inimigas atinjam os alvos", explicou ele. Além disso, o novo sistema provavelmente também aumentará a dissuasão convencional da China.
"Se – como parece possível – essa capacidade incluir avisos sobre ataques de mísseis de cruzeiro, isso seria ainda mais importante para a China, que está seriamente preocupada com a capacidade de ataque convencional dos EUA. Os mísseis de cruzeiro são a principal ferramenta para ataques convencionais [...] e, portanto, a capacidade de detectá-los com tempo suficiente reforçaria não só a dissuasão nuclear da China, mas também a dissuasão convencional", concluiu Sokov.
Poderia mudar equilíbrio global?
Quando questionado sobre as consequências que a China teria na estabilidade estratégica ao adquirir o sistema de alerta precoce de mísseis, Pomper sugeriu que este teria um "efeito misto" no triângulo EUA–Rússia–China.
"Uma maior capacidade de evitar surpresas estratégicas deveria aumentar a estabilidade estratégica entre os Estados Unidos e a China; contudo, as capacidades de defesa antimísseis e de ASAT [armas antissatélite] são susceptíveis de a prejudicar até certo ponto, introduzindo uma nova imprevisibilidade no equilíbrio nuclear EUA–China. Ao mesmo tempo, a venda e o compartilhamento potencial de dados entre a Rússia e a China cimenta ainda mais uma crescente aliança militar de fato entre os países que, por si só, está mudando o equilíbrio global de poder", disse ele.
Outro ponto, acrescentou, é que o sistema pode se tornar mais uma razão pela qual "Washington tentará que os futuros acordos de armamentos incluam a China", um país que está buscando alcançar os EUA e a Rússia em termos militares.
Cooperação russo-chinesa
Sokov questionou se a cooperação russo-chinesa em matéria de defesa antimísseis seria uma "via de sentido único (da Rússia à China) ou de dois sentidos – significando que a China poderia contribuir para elementos de um tal sistema, incluindo em particular os seus componentes espaciais".
Ele também opinou que "uma questão interessante, à qual não foi e provavelmente nunca será dada resposta, é até que ponto o sistema de alerta precoce chinês será capaz de monitorar o território russo e o espaço aéreo sobre a Rússia".
O especialista sugeriu que, se a China obtivesse tais capacidades, seria capaz de adquirir "informações militares e técnicas valiosas" sobre a Rússia.