De acordo com o analista em assuntos militares Igor Korotchenko, a Rússia deve se preparar para a possível instalação de mísseis nucleares norte-americanos na Europa.
Para isso, o país pode reforçar a sua defesa aeroespacial na fronteira oeste do país, além de reiniciar projetos como a construção de sistemas de mísseis baseados em estradas de ferro. Esse projeto tinha como objetivo instalar mísseis em vagões especiais, que podem ser movimentados rapidamente pelo extenso sistema ferroviário russo.
Mundo se cala perante fim do acordo nuclear
Durante a manhã desta sexta-feira (11), o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que não recebeu resposta dos líderes mundiais acerca de sua proposta de estender uma moratória à instalação deste tipo de mísseis na Europa.
Putin acredita que os EUA não responderam intencionalmente, enquanto os aliados dos norte-americanos não podem responder sem o aval da superpotência.
O presidente russo declarou que Moscou não tinha intenção de instalar mísseis de médio alcance, mas que irá começar a "trabalhar para isso", uma vez que já surgiram mísseis norte-americanos deste tipo.
Programa Barguzin
O especialista também notou que, caso mísseis de curto e médio alcance sejam instalados na Europa ou na Ásia, a Rússia terá que tomar medidas enérgicas e reiniciar o projeto de construção de sistemas de mísseis baseados em estradas de ferro, chamado Barguzin.
"Provavelmente, a Rússia terá que desenvolver dois programas de desenvolvimento de forças nucleares estratégicas: primeiro, reiniciar o projeto Barguzin com mísseis balísticos a combustível sólido, que será imune a ataques no primeiro momento", disse o especialista à Sputnik.
Korotchenko lembrou que os satélites norte-americanos não serão capazes de detectar os trens armados com mísseis nucleares, que estarão constantemente transitando entre Moscou e Vladivostok camuflados em meio aos demais trens.
O especialista frisou que esse sistema poderia ficar pronto no curto prazo, uma vez que os trabalhos nesta área já estão avançados.
Em 2017, o jornal Rossiyskaya Gazeta reportou, citando uma fonte no complexo industrial militar russo, que os trabalhos para a construção do novo sistema russo Barguzin estão temporariamente suspensos.
O sistema Barguzin é constituído por um trem idêntico a um trem de mercadorias. Mas dentro dos vagões estão estacionados três mísseis balísticos intercontinentais com 30 ogivas com 550 quilotons de potência cada uma. A bordo também há centros de comando, sistemas tecnológicos e de comunicação, além do pessoal da guarnição.
No caso de ameaça de uma guerra nuclear, o Barguzin entra no sistema ferroviário e circula camuflado entre os demais trens. Depois de receber a ordem de ativação, o trem para e se prepara para o ataque.
O teto dos três vagões se abrem e os equipamentos que estavam escondidos colocam as plataformas de lançamento em posição vertical. Em alguns minutos, é feito o lançamento.
Reforço das fronteiras ocidentais russas
Outra medida adequada seria o reforço do sistema de defesa aeroespacial na fronteira ocidental da Rússia.
"Estamos falando da instalação de uma série adicional das mais modernas estações de radar, capazes de detectar objetos com baixa altitude de voo e capazes de evadir radares. Poderíamos também instalar mais sistemas de defesa antiaérea S-400 e sistemas de médio alcance Buk-M3 [ou SA-11 Gadfly] e Tor-M2 [SA-15 Gauntlet]. Assim nós poderíamos identificar os preparativos para atacar a Rússia e não permitir que qualquer alvo seja atingido no território do nosso país", esclareceu Korotchenko.
O fim do Tratado INF
O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário deixou de vigorar no dia 2 de agosto de 2019.
No início deste ano, Washington informou à Rússia sua intenção de abandonar o acordo, acusando-a de ter violado os termos do tratado. Moscou nega todas as acusações.
No início de junho, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou a lei que suspende o tratado. A Rússia repetidamente declarou que cumpria totalmente os termos do INF.
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, lembra que os russos têm as suas fortes dúvidas em relação ao cumprimento do Tratado pelos norte-americanos. O ministro afirma que as acusações dos EUA eram infundadas.