Petrobras abre nesta sexta-feira a rodada de ofertas para 4 das 8 refinarias que coloca à venda, esperando fechar negócio estimado no total de US$ 18 bilhões, segundo os bancos de investimento que operam o processo.
A planejada venda de 8 refinarias pela Petrobras está atraindo as maiores tradings e petroleiras do mundo, entre os quais a SaudiAramco e a PetroChina. Cerca de 20 empresas assinaram termos de confidencialidade e manifestaram seu interesse no negócio.
Este é mais um passo para a privatização total da Petrobras? O aumento da concorrência no setor do refino poderá ser vantajoso para o consumidor final?
O preço cai
Para José Mauro de Morais, economista e coordenador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que conversou com a Sputnik Brasil, a venda dos ativos da empresa não tem relação com a agenda de privatização, mas busca reduzir os níveis de endividamento da estatal e melhorar os índices de liquidez.
"A dívida da Petrobras chegou a alcançar pouco mais de 100 bilhões de dólares, há cerca de 3 ou 4 anos. É impensável para qualquer empresa manter o nível tão alto de dívida, pois dificulta acesso ao mercado internacional de crédito", explicou.
Por outro lado, o economista considera sem sentido num mercado tão aberto como o de petróleo ter uma empresa que monopoliza todo o mercado de combustíveis.
"É preciso que haja mais competição, mais competitividade. Esse é o segundo motivo pelo qual a Petrobras continua o seu processo de venda de ativos", completou.
Morais acredita que para o consumidor final os preços passarão a seguir os preços do mercado internacional, geralmente mais baixos. Os impostos encarecem alguns combustíveis, "mas com a abertura do mercado, com mais empresas no jogo, seria possível esperar uma redução de preço".
O preço sobe
Já Felipe Coutinho, engenheiro, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), discorda do economista da IPEA. E disse à Sputnik Brasil que a venda das refinarias significa a desintegração da Petrobras.
O engenheiro defendeu o conceito de integração na indústria do petróleo, praticado pelas maiores empresas do setor, que é forma de operar que engloba a procura, a produção, o refino e a distribuição do combustível, bem como o controle do setor petroquímico, que agrega valor à matéria prima.
"É a forma de empresas garantirem bons resultados independente do preço do petróleo", afirmou.
Assim, quando o petróleo está em baixa, o setor petroquímico é fundamental para o bem-estar da empresa. E são justamente esses os ativos que a Petrobras está vendendo.
"O preço do petróleo varia a revelia da Petrobras e do governo do Brasil", afirmou o engenheiro. "A venda das refinarias, da BR Distribuidora e das malhas de gasodutos expõe a Petrobras aos riscos que a empresa não está exposta hoje", acrescentou.
Isso também afeta a gestão da companhia, alertou o especialista, e compromete o futuro da estatal.
Já quanto ao preço, o interlocutor da Sputnik acredita que o preço de combustível tenderá a subir.
"Os custos muito baixos da Petrobras, em função da integração da cadeia produtiva, permitem que ela cobre preços baixos do consumidor", explicou o engenheiro, acrescentando que a empresa não pratica essa possibilidade desde 2016, quando adotou preços paritários aos de importação, por uma questão política e empresarial.
Para Coutinho, a afirmativa de que não há concorrência no mercado brasileiro é falaciosa. "O mercado brasileiro dos combustíveis está integrado na bacia do Atlântico. As refinarias da Petrobras competem com as refinarias norte-americanas do golfo do México. Quando a Petrobras pratica preços relativamente altos, como vem fazendo, ela perde mercado, porque o combustível importado fica mais competitivo", ponderou o presidente da Aepet.
Para ele, a Petrobras corre risco de se tornar, se seguir a estratégia atual, uma empresa cada vez menor.