Para o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, a informação revelada pelo chefe da Rosatom Overseas (faz parte da Rosatom), Yevgeny Pakermanov, de que há negociações entre os dois países, pode trazer frutos importantes para o lado brasileiro.
"Eu creio que o foco da discussão esteja na questão do petróleo [...] Acho que estaríamos falando muito mais de áreas ultra profundas, onde você teria poços muito profundos. Você imagina descer com toda uma tubulação, com toda uma estrutura para mais de 2.300 metros e você ter de ter geração de energia na superfície, exatamente para alimentar todo esse processo", assinalou Cunha.
Mais cedo, Pakermanov afirmou que há discussões intensivas com o Brasil acerca de tecnologias de usinas nucleares flutuantes. "Para a parte brasileira estas tecnologias são especialmente interessantes no que se refere ao fornecimento de energia para grandes projetos de extração offshore de combustíveis fósseis", acrescentou o executivo russo.
O presidente da ABDAN ressaltou que a saída pode ser boa, mas é preciso ter mais estudos que corroborem a aplicação de uma usina nuclear flutuante em terras brasileiras. Ele mencionou que ainda se sabe muito pouco sobre o teor das tratativas entre Brasília e Moscou sobre o assunto.
"Eles [russos] não falam isso, não falam sobre construir aqui. A primeira usina flutuante deles acabou de cruzar o Ártico, se posicionar. Na realidade, acho que a Rosatom está oferecendo a tecnologia ao Brasil [...] A ideia, pelo que eu entendo, é exatamente essa: eles usariam [a usina] em território brasileiro e isso geraria os benefícios para o nosso mercado. É um processo que se precisa construir ainda, acho que é uma oferta ainda", avaliou.
O especialista ouvido pela Sputnik Brasil elogiou ainda o que ele chamou de "capacidade de execução" da Rússia na área nuclear, e que o Brasil "deve estar sempre disposto a avaliar e escutar as formas mais diferenciadas de chegar ao mesmo objetivo" quando o assunto envolver as riquezas da Amazônia Azul, como é conhecida a ampla costa brasileira.
Cooperação em Angra 3
O chefe da Rosatom Overseas também declarou que os russos têm interesse em participar das obras de conclusão da usina nuclear de Angra 3, que se arrastam há mais de 30 anos. Questionado sobre o interesse de Moscou no projeto, Cunha destacou que o Brasil deve mesmo buscar parceiros sólidos para concluir a obra em breve.
"A Rosatom é uma empresa grande, apoiada pelo governo russo e que tem uma estrutura invejável, que nunca parou de construir usinas nucleares. Então, você ter parceiros sólidos como esses que citei é importante para o país. Na hora de executar, o Brasil tem conhecimento, sabe como realizar, e nesse momento o Brasil precisa de recursos para terminar essa usina e construir outras que são importantes para o setor não só nuclear, mas também o elétrico brasileiro", declarou.
Entretanto, mencionou o presidente da ABDAN, o governo do presidente Jair Bolsonaro, por intermédio do Ministério de Minas e Energia, ainda precisa se posicionar sobre como se dará o modelo econômico para a conclusão de Angra 3. Ele ainda arriscou um palpite a respeito da retomada das obras pela Eletronuclear.
"O mercado está aguardando agora o governo brasileiro se pronunciar sobre qual vai ser o modelo econômico utilizado para a concorrência que vai ser realizada, para ter um sócio da Eletronuclear, para terminar essa obra. Já ouvimos o governo falar que está trabalhando para em seis meses eles terem [a proposta], e no ano que vem começarem as obras", concluiu.
Cooperação Brasil-Rússia
O tratado de cooperação entre o Brasil e a Rússia na área da energia nuclear foi assinado em 1994. Em 2017, a corporação Rosatom assinou um memorando de entendimento com as empresas brasileiras Eletrobras e Eletronuclear sobre a promoção da colaboração.