A agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P) publicou uma nota, na qual defende que não faz mais sentido agrupar os países do BRICS em um grupo unificado, uma vez que as disparidades entre os ritmos de crescimento econômico são muito grandes.
No entanto, o acrônimo BRICS representa uma realidade geopolítica que vai além da questão econômica, segundo análise da Bloomberg. O grupo expressa a necessidade de reforma das instituições de governança global, inalteradas desde o fim da Segunda Guerra Mundial e que já não respondem às demandas do mundo moderno.
O impacto dos BRICS na reforma da governança global é nítido e, por enquanto, inabalado. Dúvidas acerca do posicionamento de Bolsonaro em relação ao grupo foram parcialmente dissipadas após a sua visita à China, na semana passada, e pelos preparativos para a próxima reunião do grupo, a ser celebrada entre os dias 13 e 14 de novembro, em Brasília.
Diferenças econômicas
A constatação feita pela agência S&P de que as economias dos BRICS crescem em ritmos diferentes é verdadeira, mas não revela um fenômeno novo. Como revela a própria nota, as disparidades estimadas para o período de 2011-2020 não são muito diferentes das observadas entre 2001-2010.
De acordo com os dados, de fato, o crescimento da participação das economias dos BRICS no PIB global cresceu, mas somente em função da performance das economias da China e Índia.
A participação das economias do Brasil, Rússia e África do Sul na produção global diminuiu desde 2000, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Inovações geopolíticas
O criador do acrônimo BRIC, Jim O’Neill, responde às críticas feitas ao seu histórico artigo, publicado em 2001, dizendo que seu objetivo era questionar a adequação das instituições contemporâneas – Banco Mundial, FMI, G7 – à realidade econômica global.
Desde a criação do agrupamento, em 2009, os BRICS tiveram peso significativo na modificação dessas instituições. O G7, por exemplo, foi amplamente substituído pelo G20 quando o assunto é a cooperação macroeconômica internacional. Após a crise de 2008, o principal foro de debate acerca das medidas globais de combate à crise foi o G20, justamente pela presença dos BRICS no grupo.
Quando não foram capazes de reformar instituições anacrônicas, os BRICS optaram por criar novas. Esse é o caso do Novo Banco de Desenvolvimento, mais conhecido como Banco dos BRICS.
Após anos de negociações com os EUA e os países europeus, a reforma do FMI não foi aprovada pelo Congresso norte-americano. Frente à relutância do Ocidente de adequar o sistema de votação do FMI à realidade contemporânea, o grupo criou o seu próprio banco de desenvolvimento, que conta atualmente com US$ 10,2 bilhões (cerca de RS$ 40 bilhões) em carteira de empréstimos.
Poder multidimensional
Apesar da incontestável importância do poder econômico, ele não é o único determinante da influência de um país no cenário internacional.
A Rússia segue entre as primeiras potências militares do mundo, enquanto a Índia é uma potência científica e demográfica.
A influência regional do Brasil e da África do Sul também parece variar pouco em função de seu desempenho econômico.
Portanto, pode ser que O’Neill não tenha previsto o ciclone econômico que assolou alguns países do BRICS, mas a relevância geopolítica e a coesão do grupo parecem, até agora, estar navegando em águas serenas.