"Estou conversando com o ministro da Justiça [Sérgio Moro] sobre o que pode ser feito para que a polícia tome o depoimento [do porteiro] novamente", afirmou Bolsonaro da Arábia Saudita, onde está em uma viagem oficial, segundo o site UOL.
O líder brasileiro acredita que o porteiro citou seu nome na investigação policial porque "ele estava errado ou não leu o que assinou". Bolsonaro acrescentou que o delegado do caso poderia ter escrito qualquer coisa e pedido que o porteiro assinasse, algo que, na sua opinião, poderia ter acontecido porque ele é "uma pessoa humilde".
Uma reportagem da TV Globo, transmitida na noite de terça-feira, destacou que o porteiro do condomínio onde Bolsonaro mantém sua residência no Rio disse que o suposto assassino de Marielle Franco, Élcio de Queiroz, pediu para ir à casa de presidente apenas no dia do assassinato, em 14 de março de 2018.
De acordo com a versão do porteiro, feito à polícia fluminense, alguém com a voz de Bolsonaro autorizou a entrada de Queiroz no condomínio – ele identificou como a voz do "seu Jair". No entanto, naquele dia Bolsonaro, que na época era parlamentar, não estava no Rio, mas em Brasília, como mostrou um registro de presença na Câmara dos Deputados.
Após essas revelações, Bolsonaro gravou um vídeo de Riad (Arábia Saudita) ao amanhecer, visivelmente exaltado, criticando a TV Globo e a imprensa em geral, que ele acusa de estar atacando-o gratuitamente para prejudicar seu governo.
Ataques contra Witzel
Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de ter vazado os detalhes da investigação para a imprensa para desgastá-lo. Witzel também é um político de direita conservador e conseguiu ser eleito no Rio, em parte, graças à sua proximidade com Bolsonaro, apesar de pertencerem a diferentes partidos.
Nos últimos meses, eles se distanciaram e Witzel já garantiu que pretende ser candidato a presidente em 2022. Bolsonaro acredita que é por isso que ele é atacado pelo líder fluminense.
Os partidos de oposição e parentes da vereadora Marielle Franco descreveram as revelações nas quais o nome de Bolsonaro aparece na investigação policial oficial como muito sério.
Como o nome do presidente é citado, a investigação deve passar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que tem o poder de investigar as autoridades públicas, como é o caso do presidente.
Marielle Franco pertencia ao PSOL e foi um dos principais defensores dos direitos humanos e das minorias. Ela foi morta na noite de 14 de março de 2018 por vários tiros na cabeça, junto com Anderson Gomes, o motorista do veículo em que estava viajando.
Os dois supostos assassinos, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, foram presos em março deste ano e estão na prisão, mas ainda há uma dúvida sobre quem enviou o vereador para matar e por quê.