Quais são os 5 pontos-chave da nova política externa da Argentina?

© REUTERS / Ricardo MoraesAlberto Fernández
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Em entrevista à Sputnik Mundo, o deputado Daniel Filmus, assessor do próximo presidente argentino Alberto Fernández, comentou os pontos-chave da agenda da política externa do novo governo.

Durante os últimos quatro anos, a política externa Argentina teve como foco melhorar as relações com os Estados Unidos e o FMI, se opor ao governo de Maduro e amenizar as tensões resultantes da disputa histórica quanto à soberania das Ilhas Malvinas com o Reino Unido.

Contudo, ao que tudo indica, o candidato eleito à presidência, Alberto Fernández, tem em mente uma política externa bem diferente do atual presidente Mauricio Macri.

Comentando os pontos-chave da nova agenda da chancelaria argentina, o deputado peronista e assessor da equipe de Fernández, Daniel Filmus, concedeu entrevista à Sputnik Mundo.

México

Segundo publicou o portal Bloomberg, Alberto Fernández escolheu o México como primeiro país a ser visitado logo após ser eleito. A razão disso estaria além dos interesses econômicos de ambas as nações. Alberto Fernández se assemelha ao presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, em sua visão externa.

Ambos os líderes possuem uma visão muito equilibrada sobre a crise na Venezuela, ao passo que "veem de maneira semelhante o cenário internacional" e possuem a ideia de um mundo mais "multipolar, que não dependa somente dos EUA e dos governos do norte", segundo Filmus.

Além disso, o perfil progressista de Obrador abriria a "possibilidade de contar com um governo mexicano que olhe mais para a América Latina, coisa que não acontecia há muito tempo", de acordo com o deputado.

Bolsonaro

Desde a campanha eleitoral argentina que o presidente brasileiro tem demonstrado insatisfação com a possibilidade de Fernández se tornar o próximo presidente da Argentina. A princípio, a razão disto estaria nas relações de Fernández com o ex-presidente Lula e sua visão de esquerda.

Os líderes já fizeram declarações pouco agradáveis um ao outro, sendo que, no último episódio da inimizade, Bolsonaro disse que a "Argentina escolheu mal", como publicou o portal R7.

Mesmo assim, segundo Filmus, o novo governo argentino espera que as relações melhorem.

"A verdade é que as declarações de Bolsonaro nos parecem infelizes, mas desejamos que as relações entre os dois países sigam o caminho da normalidade e complementaridade do ponto de vista econômico", declarou o deputado.

Também Filmus garantiu que o novo governo deseja a manutenção do Mercosul, dado que "é o destino de boa parte das exportações industriais do Brasil e Argentina e não queremos ser somente exportadores de produtos primários aos países do norte e da China", afirmou Filmus.

Compreendendo que as relações entre Brasília e Buenos Aires são de nível estatal, o deputado afirma que o governo de Fernández não pretende sacrificar as relações entre os vizinhos.

"Esperamos que estas posições de Bolsonaro não prejudiquem a relação comercial nem o vínculo político-social entre os povos, que é muito estreito", disse Filmus.

Crise na Venezuela

Desde 2017, a Argentina tem feito grande esforço diplomático no Grupo de Lima para combater o governo de Maduro.

O presidente Macri deixou de reconhecer o governo Maduro após as últimas eleições venezuelanas e aceitou a autoproclamação de Juan Guaidó como o presidente interino da Venezuelana.

© Foto / Presidência da ArgentinaLíder oposito venezuelano Juan Guaidó (à esquerda) com o presidente argentino Mauricio Macri (à direita) em Buenos Aires
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Líder oposito venezuelano Juan Guaidó (à esquerda) com o presidente argentino Mauricio Macri (à direita) em Buenos Aires

Recentemente, Buenos Aires reconheceu a embaixadora de Guaidó, Elisa Trotta, como representante máxima de Caracas na Argentina.

Segundo Filmus, o governo de Fernández pretende mudar a atuação da Argentina no Grupo de Lima. A razão seria a postura do grupo, que poderia permitir algo que "tradicionalmente foi rechaçado na América Latina: a intervenção militar nos países da região", palavras do deputado.

Contudo, conforme o assessor de Fernández, sair do Grupo de Lima não foi uma opção discutida pela equipe durante a campanha.

Ilhas Malvinas

Se por um lado Fernández quer um diálogo mais pacífico com a Venezuela, por outro, o candidato eleito já demonstrou insatisfação com a situação das Malvinas.

Alberto Fernández prometeu em rede nacional que "as coisas seriam diferentes" em relação à questão das Malvinas. A fala do líder preocupou a chancelaria inglesa.

No entanto, para Filmus a questão não seria uma simples disputa por território. Comentando o polêmico acordo Foradori-Duncan, firmado em 2016 entre a Argentina e o Reino Unido, o deputado afirmou que o novo governo será contra a postura de Macri em relação à questão.

"Seguramente o nosso governo vai tomar em conta este acordo para lhe dar o tratamento [devido] no Congresso, como deveria ter sido, e instar que é ofensivo aos nossos interesses, não somente quanto ao território, mas também quanto aos recursos que existem ali", disse Filmus.
Boas relações com a Rússia

Enquanto presidente da Argentina, Cristina Kirchner, atual vice de Fernández, aqueceu as relações com Moscou, tendo estabelecido bons laços com o presidente russo, Vladimir Putin.

Tal tendência deverá voltar com o governo de Fernández, segundo Filmus.

"Estamos seguros de que com a Rússia vamos ter uma boa relação. Buscamos uma boa relação com todos os países, mas é particularmente estratégico ter um vínculo estreito com a Rússia e a China", destacou o deputado.

O peronista também ressaltou o apoio que Buenos Aires recebeu de Moscou em relação à questão das Malvinas.

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