Motores no máximo, impacto no convés, rolagem curta e frenagem brusca com o cabo de retenção... Em 1º de novembro de 1989, pela primeira vez na história da Marinha russa, o piloto de testes Viktor Pugachev pousou um caça Su-27K no cruzador porta-aviões Admiral Kuznetsov. O pouso no navio é considerado um dos elementos mais difíceis do treinamento de voo.
Ao primeiro toque
De acordo com as memórias do Herói da União Soviética Viktor Pugachev, o navio saiu para o mar no dia 1º de outubro de 1989 e prosseguiu imediatamente para a área da baía de Eupatória.
"Começaram os testes conjuntos do navio e dos aviões", diz Pugachev. "Em novembro houve condições para o primeiro pouso e nós recebemos todas as autorizações pertinentes. Antes disso treinávamos voos arremetendo. Tocávamos no convés sem soltar o gancho e fazíamos mais uma volta. Já no ar, veio a ordem para fazer o pouso completo. Tudo o que eu tinha que fazer era soltar o gancho e pousar com frenagem, o que foi feito com sucesso."
A principal dificuldade ao pousar em um porta-aviões é que, ao contrário de um aeródromo clássico, o piloto só tem um comprimento mínimo de pista para frenar até à parada total. Não há margem para erro.
"O comprimento padrão de uma pista é de pelo menos dois quilômetros", explica Anatoly Kvochur, piloto de testes que participou do desenvolvimento do sistema de decolagem e pouso no porta-aviões do Admiral Kuznetsov. "Em um porta-aviões a pista é de cerca de setenta metros, por isso é necessária a maior precisão. Pousar em um navio e decolar dele é uma tarefa muito difícil, tanto para o piloto como para o material."
O piloto tem de ter precisão minuciosa. A aeronave deve ser pousada sobre uma pista curta com apenas cerca de quarenta metros de comprimento. A aproximação é feita sob um certo ângulo de inclinação de apenas três ou quatro graus. O toque deve ter lugar a não mais que dois metros do eixo central do convés de voo. Normalmente o porta-aviões está em movimento, pelo que a trajetória de descida tem de ser constantemente ajustada.
Segundo cabo
No porta-aviões há dispositivos especiais como cabos de desaceleração para a parada rápida de um aparelho de 20 toneladas. São cabos de aço fortes e flexíveis estirados transversalmente no convés. Há quatro deles no Kuznetsov. A tarefa do piloto durante o pouso é pegar o cabo com o gancho de frenagem (um gancho na parte traseira da aeronave que é largado manualmente). Depois o sistema automático estica o cabo.
"A avaliação do exercício é considerada 'excelente' quando o piloto pega o segundo cabo", especifica Kvochur. "O avião desce sem alinhamento, como em um aeródromo normal, ou seja, você toca no convés à mesma velocidade vertical."
Os pilotos navais russos aprenderam a pousar com confiança no Kuznetsov, tanto com mau tempo, de noite ou em condições meteorológicas difíceis. "O sistema televisivo Luna ajuda a fazer pontaria com suas objetivas montadas no convés de voo.
Nem todos podem se tornar pilotos de aviões embarcados. Os candidatos estão sujeitos a requisitos especiais, tanto físicos como psicológicos. No momento de toque e acionamento dos cabos de desaceleração há uma sobrecarga nas partes torácica e cervical da coluna vertebral. Além disso, a frenagem brusca também pode causar descolamento da retina, uma das doenças profissionais dos pilotos de porta-aviões em todo o mundo.
O piloto deve ser capaz de manter uma serenidade absoluta e tomar imediatamente a decisão adequada em situação de emergência. Por exemplo, para proteger a aeronave em caso de quebra do cabo, o piloto pousa no convés "a todo o gás", para que o piloto possa manter a velocidade e arremeter para segunda volta, mesmo depois do toque no convés.
"Se um cabo rebentar, o avião não vai parar sozinho," revela Kvochur. "Para tais casos há uma instrução clara: tocar na pista, aumentar o empuxo dos motores e ir para a segunda volta. Pior ainda se o cabo se partir depois de a velocidade se ter reduzido. O avião não poderá decolar e cai na água."
Em dezembro de 2016, no porta-aviões Admiral Kuznetsov o cabo se quebrou e um caça caiu perto da costa síria. O piloto conseguiu se ejetar.
Um porta-aviões 'terrestre' e asas dobráveis
De acordo com Pugachev, antes de tocar o convés de um navio pela primeira vez, ele esteve treinando durante anos em um complexo de treinamento terrestre. A técnica de decolagem e aterrissagem era praticada até se tornar automática.
Na era soviética, os pilotos de convés eram treinados no Complexo Terrussaestre de Treinamento e Testes de Aviação (NITKA) na Crimeia. O simulador imita o convés de um porta-aviões e é formado por uma pista de aço equipada com trampolim e cabos de desaceleração.
Por sua forma e tamanho a pista é semelhante à do Admiral Kuznetsov e tem um trampolim de proa para decolagem. Após o colapso da URSS, a Rússia primeiro alugou esse centro de treinamento único à Ucrânia, mas depois construiu um complexo de treinamento no aeródromo naval de Yeisk, região de Krasnodar.
A aviação embarcada da Marinha da Rússia está equipada com caças pesados Su-33, aviões de assalto Su-25UTG e caças MiG-29KR. Uma das características distintivas das aeronaves da aviação embarcada são as asas dobráveis, que facilitam o seu estacionamento em porta-aviões.
O Su-33 tem uma maior área de asa e tem canards frontais adicionais, em comparação com o seu análogo terrestre Su-27. Os Sukhoi embarcados estão também equipados com chassi reforçado, resistente a impactos durante o pouso, com sistema de reabastecimento de combustível em voo e equipamento especial de navegação.