Durante a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Ásia e ao Oriente Médio, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse em Pequim que autoridades chinesas demonstraram intenção em participar da exploração do minério no Brasil, hoje sob monopólio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB).
Para o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), o engenheiro Celso Cunha, essa possibilidade representaria a geração de muitos recursos para o país.
"O Brasil hoje está em verdadeira ebulição no sentido em que o setor nuclear está aquecido, está se movimentando, e precisa de muitos parceiros. Não só chineses, mas russos, americanos, franceses, precisamos de todos", disse o especialista.
O mercado chinês demonstra potencial. A energia nuclear representa 8% da matriz energética do país, e o governo quer elevar essa participação para 25%.
"A China, nesse momento, está construindo 12 usinas nucleares. É muito importante ter esse parceria", opinou Cunha.
O especialista frisou que o "Brasil é a sétima maior reserva de urânio do mundo", ao passo que "só foram estudados um terço do território nacional". O engenheiro explicou ainda que em alguns casos é permitida a exploração do urânio ao lado de empresas privadas.
Legislação permite Parcerias Público-Privadas em alguns casos
"Atualmente, a legislação existente permite uma Parceria Público-Privada em uma mina em que o urânio existe em menor quantidade do que outros minérios", afirmou. Um exemplo é a mina de Santa Quitéria, no Ceará.
Mas de acordo com o engenheiro, é preciso quebrar o monopólio, ou pelo menos flexibilizar ainda mais as leis, para permitir a exploração de outros países e empresas nos casos em que o urânio é o minério mais abundante.
"Quem controla todas essas lavras são as Indústrias Nucleares Brasileiras, que domina todo esse processo, que poucos países do mundo dominam, o enriquecimento do urânio", disse Cunha, que apesar de defender a abertura do mercado, faz uma ressalva.
'Minério debaixo da terra não vale nada'
"Você tem que determinar o que é sua reserva estratégica, ou seja, aquilo que você não quer vender, porque você precisa para nossas usinas, daquilo que quer vender e transformar em recursos para o país. O minério debaixo da terra não serve para nada", afirmou.
Para ser usado como combustível nos reatores das usinas nucleares, o urânio passa por uma série de processos, até se tornar uma espécie de pastilha, o chamado enriquecimento do minério. "A INB produz urânio enriquecido a até 5% em peso do isótopo 235 para a fabricação dos combustíveis que abastecem as usinas Angra 1 e Angra 2 e, no futuro, também Angra 3", informa o site da entidade.
Para o presidente da ABDAN, o ambiente é favorável para uma mudança nas leis brasileiras. "Acredito que a quebra do monopólio possa ocorrer ano que vem. O governo está conversando com todas as partes. Os parlamentares terão a sensibilidade de entender a importância disso para o país".