Em 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de mineração de Mariana, Minas Gerais, controlada pela Samarco S.A (consórcio das empresas Vale S.A. e BHP Billiton), rompeu-se e provocou o que é considerado o desastre industrial de maior impacto ambiental da história brasileira, causando 19 mortes.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luiz Jardim Wanderley, afirmou que ainda é muito difícil diagnosticar o volume da tragédia quatro anos após o desastre de Mariana.
"A gente ainda tem uma extensão do desastre muito desconhecida do ponto de visa ambiental. Acho que a gente ainda vai demorar muito pra ver quais são os efeitos de bioacumulação, a gente não tem nenhuma fonte segura que identifique hoje que estes rejeitos não produzem impacto, porque a decisão da Renova [responsável pelas ações de reparação da mineradora Samarco] e das empresas foi não retirar a plenitude do rejeito do rio", afirmou o geógrafo.
Entre alguns impactos já observados em relação aos efeitos do desastre de Mariana, o pesquisador citou a identificação de lençol freático contaminado ao longo do Rio Doce, do ponto de vista da saúde, populações com alterações de característica sanguínea, com metais pesados no sangue.
"Sobretudo continuamos na dúvida sobre como se alimentar dos animais presentes, de pescados, seja na parte mais próxima da foz do rio, seja o pescado do próprio rio. Existe uma série de dúvidas de como hoje está o rio e da sua possibilidade de uso social", acrescentou.
Vulnerabilidade das barragens hoje
Atualmente, o Brasil tem 717 barragens de rejeitos, a maior parte em Minas Gerais e no Pará. Desse total, pelo menos 88 delas usam, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), “alteamento a montante ou desconhecido”. Ao todo, 56 barragens são consideradas de médio risco. E duas são de alto risco: as duas barragens da Mina do Engenho, uma obra abandonada em Rio Acima, mais uma vez em Minas Gerais.
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— MAB (@MAB_Brasil) November 5, 2019
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O pesquisador Luiz Jardim aponta que após a tragédia de Brumadinho, que em 2018 causou mais de 250 mortes, o governo mudou uma regulamentação de segurança de barragem, aumentando o grau do cálculo que identifica se determinada barragem está em risco ou não.
"Isso fez com que uma série de barragens da Vale ficassem vulneráveis. A gente teve um caso em Barão de Cocais, que a barragem foi sendo monitorada dia-a-dia, com risco iminente de movimento. Mas tem uma série de barragens que continuam em risco, sem dúvida", disse o geógrafo.
De acordo com ele, em primeiro lugar, não existe divulgação pública das condições dessas barragens, e existem "poucas informações se tem sobre as condições efetivas dessas barragens". "As barragens que romperam eram consideradas estáveis e seguras", observou.
O especialista apontou que os laudos sobre a segurança das barragens que vêm sendo emitidos são fornecidos por empresas contratadas diretamente pelas próprias mineradoras.
"A gente viu no caso de Brumadinho que isso produz pressões às empresas que avaliam as barragens e muitas vezes elas dão a validade da barragem pensando em futuras contratações, pensando que essa empresa pode fazer melhorias pontuais para tornar a barragem estável, mesmo que ela não esteja naquele momento", disse.
"Ou seja, não tem nenhuma condição de dizer que as barragens hoje existentes no Brasil, pertencentes a qualquer mineradora, estão estão estáveis e seguras. E agora tem uma série de barragens que estão declaradas como instáveis, que a partir do novo cálculo da ANM, estão agora em condições de instabilidade", completou.