O questionamento acima resume bem o tom da intervenção de Snowden, de pouco mais de 30 minutos. Por videoconferência a partir da Rússia, onde pediu asilo, o ex-funcionário da NSA, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, criticou o que considera ser um modelo de negócio voltado para "o abuso" dos usuários.
Para Snowden, gigantes tecnológicos como Google, Facebook e Amazon encabeçam a lista dos "abusadores", através da coleta de dados dos usuários. "Os dados não são inofensivos, não são abstratos quando se fala de pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas".
Edward Snowden, que denunciou o esquema global de vigilância da NSA em 2013, define os dias de hoje como uma era em que "o sistema torna as populações vulneráveis para o benefício dos privilegiados". Para o analista, leis de proteção de dados, embora polêmicas, não são um problema, mas a coleta de dados sim.
O 5G da chinesa Huawei
Se por um lado Edward Snowden abriu o evento com severas críticas ao atual sistema que envolve coleta de dados pessoais na internet, o Web Summit também deu espaço ao líder da gigante chinesa Huawei, que encabeça a implantação da rede 5G pelo mundo.
Guo Ping, atual presidente da companhia, não mencionou as polêmicas sanções feitas pelos Estados Unidos à empresa, nem a campanha que o presidente norte-americano, Donald Trump, tem realizado para boicotar a Huawei. O foco do gestor foi discretamente reforçar "quem se juntar ao 5G vai sair ganhando".
Guo Ping apresentou todas as vantagens da tecnologia 5G, que pode ser utilizada em uma infinidade de aplicações. Desde "aproximar a distância entre aparelhos e nuvens", a "aumentar segurança no ambiente de trabalho", e até para "diagnósticos médicos". Os avanços, segundo o líder chinês, estão andando "mais rápido do que o esperado" e os números já são significativos. A Coreia do Sul atingiu um milhão de usuários de 5G em apenas 60 dias. Dez países já operam a tecnologia comercialmente.
Nos próximos cinco anos, a Huawei vai investir um bilhão e meio de dólares para expandir um programa de desenvolvimento em escala global.
Web Summit
O Web Summit é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo e teve início na segunda-feira (4), com término previsto para a quinta-feira (7). A edição de 2019 conta com 70.469 participantes de 163 países. Encabeçando a lista dos países que enviam as maiores delegações estão o Reino Unido, Alemanha, Brasil e Estados Unidos.
"É importante estar em um ambiente que traz novidades em tecnologia, favorece o networking. Aqui tem desde pequenas empresas até gigantes que participam do evento, em uma sintonia que não teríamos em outro local", diz à Sputnik Brasil Gabriel Borges, CEO da startup Quero 2 Ingressos, plataforma de soluções relacionadas à venda de ingressos para produtores de eventos criada em Franca, interior de São Paulo.
Para quem pretende entrar no mercado da inovação e tecnologia, o evento pode dar a inspiração que faltava. Também de São Paulo, Eliézer Pimentel, CEO da CloudMed Technology, retorna ao Web Summit com um fruto da participação no ano anterior, uma startup que desenvolve soluções para o mercado de saúde utilizando biometria facial para evitar fraudes em planos de saúde.
"A ideia dessa plataforma nasceu no Web Summit de 2018. Eu participei, vi algumas soluções de biometria facial, voltei para o Brasil com algumas ideias e nosso time fez um produto que hoje é um produto comercial da nossa empresa. Para nós é muito relevante entender o que tem de inovação surgindo a cada ano", conta o empresário à Sputnik Brasil.
Mais 9 anos em Portugal
A edição deste ano é a quarta seguida a ser realizada em Lisboa e o evento deve continuar na capital portuguesa até 2028. Para o fundador do Web Summit, Paddy Cosgrave, a cidade reúne todas as condições para seguir como residência oficial do evento.
A iniciativa faz parte do investimento que o governo de Portugal tem feito para transformar o país em um polo tecnológico competitivo, especialmente Lisboa. Além de visto especial para atrair trabalhadores do setor, existem financiamentos e outros programas de incentivo.
A gaúcha Luciana Borba, que lançou uma marca de cerveja artesanal em Lisboa, conta que o projeto ganhou força em um programa de aceleração de startups realizado pela prefeitura no ano passado. "Lisboa está muito aberta a novos negócios e ideias. Há um interesse em também impulsionar esses negócios, facilitar de alguma forma, fazer com que a gente entenda como funciona a legislação, que caminhos seguir para buscar as informações", diz a empresária à Sputnik Brasil.
Para Luciana, a participação no Web Summit completa o momento de aprendizado e troca de experiências. "É importante a gente também olhar para a cidade e pensar por que as pessoas estão vindo para cá e por que Lisboa está nesse momento. Aqui há espaço para inovação", diz.