Para o diretor do curso de Relações Internacionais da UERJ e pesquisador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Paulo Velasco, os últimos acontecimentos na Bolívia fazem parte de uma "série de cenários dramáticos", que permitem "reconhecer a fragilidade da democracia" no continente sul-americano.
"É bastante dramático, na medida que um presidente democraticamente eleito ainda no fim do seu mandato se vê obrigado a renunciar por sugestão, com muitas aspas, do comandante em chefe das forças armadas", declarou o especialista para a Sputnik Brasil.
Por outro lado, considerando a polarização política na região, para Velasco "cada governo interpreta do modo como quer" a situação. Fazer uma leitura de um evento político em função dos próprios seria natural para o entrevistado. No entanto, quase se trata de declarações oficiais e da diplomacia, o tom do Itamaraty, historicamente, sempre foi de maior moderação, de modo a preservar parcerias estratégicas, independente da conjuntura ideológica e partidária.
O Brasil é grande comprador de gás e outros produtos do país vizinho, e muitos acordos estão na iminência de renegociação. A reação do Brasil, de apoio patente à renúncia, certamente trará consequências para as relações, dependendo de quem for assumir a transição política na Bolívia, pontuou Velasco.
"O Brasil poderia se posicionar de forma mais moderada. A nota do Itamaraty foi um pouco fora de tom, dando a entender que não havia democracia durante governo de Evo Morales, o que não é verdade", acrescentou o professor.
"Vamos ver até que ponto o Brasil vai continuar mantendo posições que contrariam nossa tradição diplomática", ponderou o interlocutor da Sputnik Brasil, adicionando que o país "poderia deixar de lado as bravatas" e optar por um caminho mais pragmático.
"Não podemos deixar paixões partidárias interferir com relacionamentos super estratégicos como com Bolívia, que é indispensável para aquisição de gás pelo Brasil", concluiu.