Áñez afirmou que um dos objetivos de seu mandato é "a convocatória de eleições o quanto antes, tal como estabelecido na Constituição".
No entanto, a ex-senadora não reconhece decisão do Tribunal Constitucional do país, que permitiu que Evo e seu então vice-presidente, Álvaro García Linera, pleiteassem um quarto mandato.
"Evo e Álvaro não estão habilitados a um quarto mandato", disse a dirigente.
Porém, a ex-senadora, que assumiu o mandato em sessão parlamentar sem quórum, não negou ao partido de Evo, o Movimiento al Socialismo (MAS), o direito de tomar parte nas eleições:
"Digam ao Movimento al Socialismo (MAS) que eles tem direito de participar das eleições e que podem ir procurando candidato", disse a ex-senadora.
A candidatura de Evo gerou polêmica na Bolívia: em 2017, em referendo, a população havia votado contra um quarto mandato consecutivo. O Tribunal Constitucional do país, no entanto, reverteu a decisão.
"Não é a primeira vez que Morales roubou o voto dos bolivianos. Ele já fez isso antes, em 21 de fevereiro", acusou a ex-senadora, em referência ao plebiscito.
Por que Evo Morales renunciou?
Neste domingo (10), consumou-se um golpe de Estado na Bolívia: as Forças Armadas e a Polícia exigiram publicamente que o presidente da República, Evo Morales, renunciasse ao cargo. Coagido, Evo renunciou e recebeu asilo político no México.
A crise política boliviana teve início após as eleições presidenciais de outubro. Os resultados preliminares, que apontavam para a vitória de Evo já no primeiro turno, levaram a oposição a convocar protestos. O líder opositor, Carlos Mesa, acusou o presidente e o Tribunal Eleitoral do país de fraudar as eleições.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitou uma auditoria às eleições, o que foi acatado pelo então mandatário Evo Morales. Mesmo antes da apresentação do relatório final da OEA, a Organização reivindicou novas eleições.
Apesar de Evo Morales ter concordado com a celebração de um novo pleito – e não somente de um segundo turno – as Forças Armadas e a Polícia 'solicitaram' a renúncia do mandatário.
Como Jeanine Áñez chegou ao poder?
Após a renúncia de Evo, diversos membros de alto escalão do governo também renunciaram, incluindo a presidente do Senado. Em meio à crise, a segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, se autoproclamou chefe de Estado interina da Bolívia, em sessão que não contou com o quórum legislativo necessário para a sua aprovação no cargo.
De acordo com a Constituição boliviana, o parlamento deve, primeiramente, reconhecer ou rejeitar a renúncia de Evo Morales. Só após o reconhecimento pode iniciar o processo de sucessão. Não obstante, o Tribunal Constitucional boliviano acatou a autoproclamação, em nome do princípio da "continuidade".
Reconhecimento do Governo Áñez
O governo dos EUA reconheceu a senadora opositora Jeanine Áñez como presidente interina da Bolívia. O governo brasileiro também reconheceu a autoproclamação de Jeanine Áñez. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou que a percepção do Brasil é de que "a Constituição boliviana está sendo respeitada".
Em contrapartida, o governo argentino, liderado pelo adversário político de Kirchner, Maurício Macri, ainda não aceitou o novo governo boliviano. O chanceler uruguaio, por sua vez, declarou que seu país só reconhece "presidentes que ascendem ao cargo por via de eleições".
A Rússia reconheceu a liderança de Áñez, mas o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, ressaltou, nesta quinta-feira (14), que "nós consideramos tudo o que antecedeu a mudança de poder como atos equivalentes a um golpe de Estado".