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Membro do WWF: lentidão do governo aumenta impacto de crises ambientais no Brasil

© AP Photo / Eraldo PeresCavalos no rio Taquari, em Corumbá, no Pantanal, em maio de 2017
Cavalos no rio Taquari, em Corumbá, no Pantanal, em maio de 2017  - Sputnik Brasil
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A lentidão do governo federal em responder às crises ambientais que têm afetado o Brasil provoca mais impacto do que a própria ocorrência desses problemas, segundo um especialista do WWF ouvido pela Sputnik.

Em entrevista à agência para comentar os casos de desmatamento e queimadas que têm atingido a Amazônia e o Pantanal, Júlio Sampaio, gerente do Programa Cerrado e Pantanal do WWF-Brasil, se queixou da demora do governo brasileiro para adotar ações de combate a problemas desse tipo. 

Nesta semana, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apresentou dados preliminares do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), indicando um aumento de quase 30% na devastação desse bioma entre o início de agosto do ano passado e o final de julho deste ano. Ao todo, segundo o Inpe, o desmatamento na Amazônia atingiu 9.762 km² nesse período, maior índice desde 2008.

Nesta quarta-feira, ao ser questionado sobre esse grave problema ambiental, o presidente da República, Jair Bolsonaro, atribuiu isso a uma questão cultural, afirmando não ser possível acabar com as queimadas ou com o desmatamento. 

​De acordo com Sampaio, avaliações feitas pela sua organização durante semanas de grande intensidade dos incêndios na Amazônia mostraram uma relação direta entre as queimadas e o desmatamento, uma vez que "mais de 80% desses focos de incêndios estavam ocorrendo em áreas associadas ao desmatamento". 

"Daí, a gente tem uma conjuntura de fatores que está provocando a intensidade que foram os incêndios. Então, se a gente vê nos dados agora do Inpe, que foram apresentados nesta semana, um aumento do desmatamento nesse período dos últimos 12 meses, é natural, natural entre aspas, porque o fogo acaba sendo utilizado como uma ferramenta para finalizar o processo do desmatamento", disse ele à Sputnik Brasil.

Pantanal, bioma mais preservado do país

Na última semana, uma notícia alarmante chamou a atenção de ambientalistas, e da sociedade civil, para o alto índice de destruição verificado no bioma mais preservado do Brasil, o Pantanal. Em outubro passado, as queimadas nessa região tiveram um aumento de 2.025% em relação ao mesmo mês em 2018. Ao todo, foram 2.430 focos de incêndio, pior resultado dos últimos 17 anos. 

Longe de ser coincidência, dados do Inpe mostraram uma tendência devastadora para a região em 2019, com a maior extensão de terra queimada dos últimos 12 anos. Ao todo, 18.138 km² foram atingidos por focos de incêndio.

​"O Pantanal é um bioma ainda preservado, do ponto de vista de sua cobertura natural. Cerca de 83% do Pantanal ainda está mantido, então 83% de cobertura natural ainda é encontrada naquela região. Comparado com outros biomas, que já perderam mais da metade da sua cobertura natural, a gente pode considerar que o Pantanal é, sim, um bioma relativamente preservado. Mas é pressionado também", declarou Júlio Sampaio à Sputnik.

Segundo o especialista, neste ano, o período de seca foi mais prolongado na região, que também teve recorde de temperatura e uma umidade relativa muito baixa. Esses fatores climáticos associados contribuíram para a "ocorrência em maior severidade desses incêndios", mas contaram com uma contribuição nada especial:

"O que também aconteceu e é uma coisa que não é natural, mas é tradicional nessa região do Pantanal, foi o uso do fogo como ferramenta de manejo da terra. Então, o pecuarista, o agricultor acaba utilizando o fogo para limpar a terra, para renovar a pastagem. Isso que ainda é uma tradição nessa região, assim como em algumas regiões do cerrado. E também como é na Amazônia, o fogo como ferramenta para limpeza de áreas."

O ambientalista explica que essa medida amplamente utilizada por agricultores precisa de uma autorização prévia das autoridades competentes, mas, muitas vezes, é utilizada de maneira irregular e, ao sair do controle, acaba desencadeando incêndios de grandes proporções.

"As motivações podem ser diferentes. Mas a gente pode dizer, com certeza, que tanto o fogo que aconteceu na Amazônia quanto o fogo que aconteceu no Pantanal, quase 100% dele, a gente está falando de fogo humano, fogo provocado pelo homem, por diversas motivações. Ou por crime ambiental ou porque era um fogo que estava sendo utilizado para manejo e perdeu o controle e se tornou um incêndio florestal. Quase 100% desses incêndios a gente pode dizer que são provocados pela atividade humana." 

​Sampaio destaca que embora muito se fale na ocorrência de incêndios naturais no Cerrado e no Pantanal, há diferenças fundamentais entre os fenômenos que acontecem de maneira espontânea e os provocados pelo homem, com consequências também diversas. 

"Sim, o fogo natural ocorre. Mas esse fogo natural vai acontecer principalmente associado a períodos de chuva, porque são focos de incêndio provocados por descargas elétricas, por raios que caem e acabam incinerando o material que está em volta. Só que, por ele estar associado a um evento climático, associado à chuva também, esse fogo não é tão severo. E mesmo que o incêndio aconteça, logo vem uma chuva, ou a chuva já está acontecendo naquela região."

Respostas lentas, impactos maiores

Analisando as reações do poder público às notícias sobre as diferentes ocorrências ambientais verificadas no Brasil ao longo deste ano, o funcionário do WWF afirma ter verificado uma certa lentidão por parte do governo federal na tomada de decisões. 

"O que se tem percebido nos últimos meses é uma certa lentidão no processo de ações emergenciais, e de controle e de comando."

Em sua área específica, o Pantanal, ele diz ter notado, pelo menos na esfera estadual, uma grande mobilização dos atores públicos envolvidos no processo de combate ao fogo. Mas, ao mesmo tempo, notou também "uma certa falta de aparelhamento desses atores públicos para ter as condições necessárias" de realizar um trabalho mais efetivo.

"Isso, sem dúvida, requer políticas públicas, investimentos em Segurança Pública, para que esses atores públicos que atuam no combate [a incêndios] possam estar mais bem preparados", disse Sampaio. "Parece que, no nível estadual, há uma certa articulação, mesmo com uma certa deficiência no aparelhamento dessas instituições. Agora, no contexto federal, o que a gente tem percebido é uma certa lentidão nessas respostas. E isso, sem dúvida, provoca ainda mais impacto do que esses acontecimentos que têm ocorrido: fogo, óleo etc."

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