Nesta quinta-feira (21), Henry Kissinger proferiu uma palestra em Pequim na qual alerta para um possível conflito de grande escala entre os EUA e a China, caso os países não encontrem uma solução duradoura para a guerra comercial.
"Se permitirem que o conflito [entre EUA e China] siga sem restrições, as consequências podem ser ainda piores do que as que sofreu a Europa", disse o ex-secretário de Estado dos EUA em referência às guerras mundiais que assolaram a Europa.
Kissinger disse que, se os dois países continuarem encarando "todas as questões mundiais em termos de conflito", há um real "risco para a humanidade".
"A Primeira Guerra Mundial estourou por causa de uma crise relativamente menor [...] e hoje em dia as armas são mais poderosas", lembrou Kissinger.
Os Estados Unidos e a China estão envolvidos em uma guerra comercial há cerca de 18 meses. Iniciada pela administração Trump, a contenda coloca os países "à beira de uma Guerra Fria".
"Ainda não estamos nesse nível de rivalidade, mas nós também não temos negociações formais para reduzir o conflito político", declarou o ex-secretário de Estado.
As tensões diplomáticas entre os EUA e a China se manifestam em outras áreas da política internacional, como as disputas territoriais no mar do Sul da China, os protestos na região administrativa de Hong Kong, dentre outros pontos de tensão.
"A China é um país com uma grande economia. E nós [EUA] também. Então iremos nos acotovelar no mundo todo", disse o político.
De acordo com ele, durante a Guerra Fria os EUA e a União Soviética colocaram como prioridade a redução mútua de arsenais nucleares, a fim de prevenir um conflito de larga escala.
No caso da China, como os conflitos anteriores têm sido "passivos", os EUA não têm uma estratégia clara para lidar com o país como uma "potência militar".
Henry Kissinger foi secretário de Estado dos EUA entre 1973 e 1977, durante as administrações Nixon e Ford. O diplomata é creditado por ter elaborado e executado a estratégia norte-americana de aproximação com a China, que levou à divisão irreversível do então bloco comunista.
Figura polêmica, Kissinger é criticado por sua influência no golpe militar de Pinochet no Chile, em 1973, no Camboja e no Uruguai. Seu livro "Diplomacia" é considerado um marco na disciplina de relações internacionais.