Publicado na quarta-feira, o relatório "Gigantes da Vigilância" da Anistia descreve como o Facebook e o Google, e suas muitas plataformas afiliadas, operam de maneiras que são simplesmente incompatíveis com o direito à privacidade e representam uma "ameaça sistêmica" à liberdade de expressão na Internet.
"Apesar do valor real dos serviços que eles fornecem, as plataformas do Google e do Facebook têm um custo sistêmico", informa o relatório.
O modelo de negócios baseado em vigilância das empresas força as pessoas a fazer uma barganha, na qual elas só podem desfrutar de seus direitos humanos online, submetendo-se a um sistema baseado em abuso de direitos humanos.
Enquanto outras grandes empresas de tecnologia também obtiveram poder significativo em outras áreas do cenário da Internet, a Anistia destacou o Facebook e o Google por seu crescente domínio sobre a "nova praça pública global", controlando os principais canais que os internautas de todo o mundo usam para se comunicar, negociar transações e "realizar seus direitos online".
"O Google e o Facebook dominam nossas vidas modernas - acumulando poder incomparável sobre o mundo digital, colhendo e monetizando os dados pessoais de bilhões de pessoas", avaliou o secretário-geral da Anistia, Kumi Naidoo, em um comunicado à imprensa.
"Ou devemos nos submeter a esse mecanismo de vigilância abrangente - onde nossos dados são facilmente armados para nos manipular e influenciar - ou renunciar aos benefícios do mundo digital", acrescentou.
No futuro, Naidoo pediu uma "revisão radical da maneira como a Grande Tecnologia opera" e criar uma Internet que coloque os direitos humanos na frente e no centro.
O relatório da Anistia confirmou apenas o que há muito é um segredo mal guardado, já que os dois gigantes da tecnologia foram pegos em flagrante inúmeras vezes.
Na semana passada, uma reportagem do jornal The Wall Street Journal revelou que o Google fez parceria com o provedor de serviços de saúde Ascension para coletar e armazenar secretamente registros médicos em milhões de pacientes em 21 estados estadunidenses - tudo depois que a empresa falhou em convencer os clientes a entregar voluntariamente seus dados médicos por meio de seu Google Health, que foi fechado em 2011 por falta de participação.
Além da incapacidade de manter os dados armazenados protegidos contra hackers e violações, o Facebook também foi criticado pela maneira como compartilha dados com outras empresas, sendo investigado no início deste ano por mais de 150 parcerias potencialmente ilegais que permitiam que outras empresas de tecnologia acessassem informações sobre usuários do Facebook, mesmo quando eles desativaram todos os compartilhamentos de dados em suas contas.