Resulta que em pessoas adultas o apoio a membros de um grupo alheio injustamente discriminados mostra uma desconcordância sistêmica menor do que o apoio a membros do seu próprio grupo. Em crianças, o mesmo comportamento é o inverso.
Conscientemente ou não, o ser humano relaciona suas ações com normas morais, porque a moral é um dos métodos mais antigos de regulação da interação entre indivíduos. Diferentes pesquisas mostram que a mesma ação aplicada a um representante do mesmo grupo e a um representante de um grupo diferente pode ser avaliada de maneira diferente.
Os cientistas da UEPPM realizaram uma pesquisa que mostra que durante a ontogênese (desenvolvimento do organismo humano) altera-se a avaliação moral das ações em situações de conflito entre os membros de diferentes grupos. O exemplo da situação foi um conflito por um recurso necessário para a sobrevivência do grupo alheio e não essencial, mas desejável, para o grupo do próprio indivíduo. Primeiro, o ser humano apoia incondicionalmente seu próprio grupo, mas quando a ontogênese está terminada ele muda sua atitude a favor de uma relação justa para com os grupos alheios.
Da pesquisa participaram 27 pessoas entre 18 e 29 anos, com idade média de 21 anos. A pesquisa teve a forma de entrevista individual estruturada, durante a qual foi medido o ritmo cardíaco através do aplicativo Stressmonitor e do sensor sem fios Zephyr HxM. Entre outras coisas, os participantes permaneciam 3-4 minutos sem falar e com os olhos fechados.
A conversação focava assuntos relacionados com estudos, trabalho e interesses pessoais dos entrevistados. Depois, eles eram convidados a solucionar uma série de dilemas morais. Tratava-se de destinar um recurso indivisível a um membro do seu próprio grupo, para o qual o recurso não representava um bem essencial, ou a um membro de um grupo alheio que necessitava do recurso para sobreviver. Antes, os mesmos dilemas foram usados na pesquisa com a participação de crianças. Os sistemas formados em diferentes etapas do desenvolvimento do indivíduo podem se contradizer, o que pode resultar em processos de desconcordância sistêmica.
"Descobrimos que as crianças que em mais de metade dos dilemas apoiaram representantes do grupo alheio, mostram uma desconcordância sistêmica maior, revelada pela variabilidade do ritmo cardíaco, do que as crianças que apoiaram com maior frequência um membro do seu próprio grupo", disse Irina Sozinova, pesquisadora do Instituto de Psicologia Experimental do Laboratório de Pesquisas Neurocognitivas de Experiência Individual da UEPPM.
O aumento do número de interações com membros de grupos alheios e o aumento de complexidade da experiência subjetiva afeta, segundo os especialistas, a alteração da avaliação moral das ações em situações de conflito deste tipo. Do ponto de vista da abordagem da evolução sistêmica, a concretização da conduta ocorre através da atualização dos sistemas formados em diferentes etapas do desenvolvimento individual do organismo, entretanto os sistemas formados em etapas posteriores não substituem os mais antigos, mas se sobrepõem a estes últimos.
A pesquisa revelou que o indicador de ritmo cardíaco (LF/HF) é menor durante a solução de dilemas morais do que durante a entrevista com o pesquisador e em estado de repouso. Também foi descoberta uma relação entre o indicador LF/HF e o apoio a um membro do outro grupo. Quanto mais os participantes da pesquisa apoiavam o outro, menor era o valor de seu indicador.
Os pesquisadores afirmam que os resultados obtidos permitem supor que em pessoas adultas a conduta relacionada ao apoio de representantes de grupos alheios é acompanhada por menor desconcordância sistêmica do que o apoio a membros do seu próprio grupo. Além disso, o processo de solução de dilemas morais é acompanhado de menor desconcordância sistêmica do que a entrevista com o pesquisador e o estado de repouso.
"Provavelmente, a formação da avaliação moral das ações em tais situações de conflito acontece por etapas, os adultos acumulam bastante quantidade de episódios de interação com o outro, baseados em uma atitude justa de uns perante os outros", diz Irina Sozinova.
Os resultados da pesquisa foram apresentados durante a Conferência Internacional Científico-Tecnológica Neuroinformatics 2019.