"Os EUA estão profundamente engajados no unilateralismo e protecionismo, o que afeta o multilateralismo e o sistema de comércio global. Eles [os EUA] já se tornaram o maior fator desestabilizador no mundo", publicou a declaração do chanceler chinês Wang Yi no Encontro de Ministros de Relações Exteriores do G20 na cidade japonesa de Nagoya, neste sábado (23), o portal CNBC.
Tendo em vista a crítica feita pela autoridade chinesa, Shi Yinhong, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Popular da China, destacou em entrevista à Sputnik China, a razão do discurso do chanceler de Pequim.
"Eu suponho que os EUA tentam reconstruir o atual sistema do comércio mundial, uma vez que ele não agrada Washington", declarou Yinhong.
Na prática, os EUA têm pressionado a Organização Mundial do Comércio (OMC) para que esta retire o status de país em desenvolvimento que a China goza na organização e que permite que o gigante asiático dê subsídios para agricultura e estabeleça barreiras mais elevadas à entrada no mercado do que nos países desenvolvidos.
Também a pressão que Washington tem feito aos seus aliados para não aceitarem o serviço de Internet 5G da gigante chinesa Huawei seria outro fator de desestabilização dos EUA contra a China.
Ainda segundo o acadêmico, o desejo por mudanças no cenário de comércio mundial dos EUA seria explicado pelo atual sistema ser antagônico ao "unilateralismo" dos EUA.
"Tal sistema [do comércio mundial] se contrapõe ao [sistema] que os EUA apoiam. Por isso os EUA irão dar passos tais como quebrar as ligações com a China em áreas importantes, enfraquecer as relações de intensa cooperação com outros países desenvolvidos. Eles podem direta ou indiretamente sair da OMC para criar seu próprio sistema de comércio internacional, em cujo centro estariam os EUA e seus parceiros econômicos mais próximos. Isso levará à queda do sistema de comércio mundial", explicou o professor.
Aliados dependentes
Ainda segundo Yinhong, os aliados dos EUA nem sempre podem usufruir de decisões mais livres da política de Washington, embora países como Alemanha, Itália e França tentem se desligar da cooperação comercial-econômica e tecnológica pragmática.
Como exemplo disto estaria Itália, que declarou que o 5G da Huawei era seguro, contradizendo o "perigo de espionagem" previsto pelo governo americano.
"Os aliados dos EUA podem ser divididos em dois grupos. Primeiro os aliados marítimos – Reino Unido, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Estes países são muito dependentes dos EUA. E o segundo grupo, países desenvolvidos da Europa, como Alemanha e França, os quais não podem ignorar completamente os interesses americanos, mas tentam executar uma política mais ou menos independente", afirmou o professor.
Contudo, ainda de acordo com Yinhong, os aliados de Washington necessitam apoiar ou ocupar mesma posição dos EUA em assuntos relativos a economia e segurança.
A razão disto seria a dificuldade de abandonar o escopo dos EUA, segundo crê o professor.
"Sair da órbita de influência dos EUA para seus aliados não é fácil. Pequim em tal caso não pode se tornar uma alternativa completa aos EUA. Além disso, muitos aliados de Washington possuem reclamações próprias contra Pequim", ressaltou o acadêmico.
Tendo em vista isto, o melhor a ser feito pela China, segundo Yinhong, seria desenvolver suas relações com os aliados de Washington, em especial nos setores diplomático e comercial.
Assim, Pequim evitaria o "jogo de soma zero" e a retórica da Guerra Fria, ao passo que seguiria uma política de reforma e apoiaria o caminho do desenvolvimento mundial.