A saída de dólares do Brasil superou a entrada em US$ 27,156 bilhões nos onze primeiros meses de 2019, de acordo com balanço divulgado na quarta-feira (4) pelo Banco Central.
Trata-se do maior valor da série histórica da instituição, iniciada em 1982, ou seja, 38 anos. É o quarto mês consecutivo no vermelho. No mesmo período do ano passado, o país registrou saldo positivo de US$ 11,760 bilhões.
O professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) disse à Sputnik Brasil que questões políticas de Brasília influenciam "de certa maneira" esse cenário, mas são "fatores objetivos" que "ajudam a entender esse quadro de maneira mais abrangente".
Capital especulativo procura juros altos
Para se entender o fenômeno, Rochlin explica que a fuga de dólares aconteceu com "capital especulativo, financeiro", que "vai para a bolsa de valores, títulos públicos e privados" e "se move por juros" (quando mais alto, maior o rendimento dos investimentos).
"Como os juros aqui no Brasil [hoje a Taxa Selic está em 5%] não representam um ganho tão expressivo como representavam no passado, investidores internacionais que se direcionam ao mercado financeiro entendem que não vale a pena correr o risco de fazer uma aplicação no país", afirmou o economista.
Rochlin ressaltou ainda que a diferença dos juros cobrados nos Estados Unidos e no Brasil, que já foi muito grande, atualmente é relativamente pequena e não tão vantajosa para os investidores.
'Aversão ao mercado latino-americano'
Outro fator, aponta o professor da FGV, é a atual conjuntura política da América Latina, que passou a ser "vista como sinônimo de risco".
"Aumentou a aversão ao risco dos investidores em relação ao mercado latino-americano. A turbulência que eclode de uma maneira até violenta no Chile, na Bolívia, agora na Colômbia, também explica um menor fluxo para a região e o Brasil, que é visto dentro desse quadro maior", disse.
Comércio fraco, queda nas exportações
E, finalmente, um "crescimento mundial menor", o que leva a uma "queda nas exportações" brasileiras, aliado a uma retomada tímida das importações, explicam essa saída de dólares, que provavelmente são "pulverizados" em outras "economias emergentes e países desenvolvidos".
Esses fatores, segundo Rochlin, influenciam a "balança comercial", e, portanto, o "fluxo cambial", fazendo com que o dólar alcance a casa dos R$ 4,20, valor que tem atingindo nas últimas semanas.